terça-feira, 9 de novembro de 2010

Paul McCartney

Os deuses da música existem. Tenho provas. Eu estava lá, no dia 7 de novembro de 2010. No meio do gramado do Beira Rio, entre 60 mil fiéis da boa música percebi minha pequenez e a beleza de desaparecer na grandeza de um astro. É um rei aquele homem. Pessoas assim vêm ao mundo para nos redimir. A qualidade, o carisma, a simplicidade são indescritíveis. Vivi um dos momentos mais lindos de minha vida. Foi o maior e o melhor show que já assisti. E eu participei daquela alegria como criança pulando e dançando, gritando, aplaudindo, sozinha e junto com toda aquela gente com os seus olhos, ouvidos, coração, corpo e mente todos voltados para aquele homem. As músicas e as lembranças de uma vida se misturavam à brisa suave que soprava naquela noite de tanta energia, a céu aberto. Eu lá, no meio do gramado, já cansada fisicamente mas meu espírito estava alerta, querendo mais, sempre mais. Ele voltou duas vezes e deu um show de surpresas, performance e carinho. As canções tão lindas e a força daquele homem me animou para tudo, para novas experiências de multidão, para compartilhar alegrias com gente anônima, para me aventurar pelo mundo. Eu lá no meio de 50 mil pessoas perdi meus medos, meus pânicos. Ganhei promessas de mim. Fui benzida por um deus da música. Minha vida, minha música, minha fé na beleza, na sintonia humana foram resgatadas. Não sei mais o que faço com todo este sentimento, se canto ou se rezo para Paul McCartney. Benção Paul.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Monólogo e música

Recebi um e-mail de um amigo numa conversa que ia do sério às letras de música. Me deu vontade de sair cantando cada vez que os versos se apropriarem. É uma vontade de cantar que não quer parar....
Quero dizer a vida em versos. Em todos os momentos dos felizes aos inversos. Dizer cantando e contagiando os outros e me fazendo amar... amar e levando todos para o céu.
Todos, até aqueles que não sabem. E cantar....com aqueles que sabem. Onde estão os que sabem e não sabem que sabem?
Quero deslizar nos ambientes de ruidos nervosos. Brincar de avental e colher de pau. Escorregar para os salões em rodopios de gente louca. Desvairada, deixar pra lá os silêncios das cavernas acadêmicas e fazer de seus loucos os trôpegos contagiados pela música a sairem dançando e cantando pelo campus...
Enquanto estiverem presos em seus box, em suas retilíneas convicções declarantes, quero rir alto com o rosto ao sol e fingir também levar tudo a sério....

domingo, 10 de outubro de 2010

sábado, 9 de outubro de 2010

Primavera enfim...

Tenho andado a cata do humano por tanto tempo que quase perdia a esperança. Tenho sentido a vontade de voltar com o blog Tempos de Solidão, no escancarado de meu dia a dia, entre todas as outras coisas que faço. Lá junto estão os blogs de trabalho. Mas eles são parentes do prazer de fazer as coisas e me envolver de verdade com tudo que diz respeito aos grupos de que faço parte. Cada vez mais tenho a consciência desta parte que sou, tenho, sinto. Sou apenas um ínfimo detalhe no todo, um quase nada. Um delicioso e reconfortante quase nada. Todo o tempo catando o humano e ele estava tão perto de mim. Resgatei minha humanidade, meu prazer de ser assim admirada com a ternura, com as raízes das coisas, com os brotos se erguendo à vida, com os solos de flauta quando ninguém espera, com os solistas sentimentais e apaixonados. São coisas dentro de mim, está tão perto. É a percepção da vida andando e suas sutilezas. Está dentro de mim, está em meu olhar, em minha atenção nos detalhes. Os detalhes que fazem o todo que vive nos invadindo, mas que nossos olhares seletos tão precisados de serem espertos, deixam passar tanta coisa, tanta vida sutil. A primavera dos sentidos nos mostra que podemos ver o melhor da vida, o melhor de nós. E aí o encantamento se completa. Voltamos a ser encantados pela vida e novas saídas dos invernos se aproximam como perfumes de tortas de maçãs nas janelas da vovó Donalda. Bailamos pela floresta e renascemos no tempo da inocência. Renascemos.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O vírus do riso

Nem quero parar muito para pensar, mas não consigo explicar porque ando rindo demais, rio à toa. Brota do nada quando respiro. Parece que a tristeza sumiu. Sinto tanto a diferença que não consigo me imaginar novamente naquela vida taciturna que vinha experimentando. Tudo é motivo para gozação. Aquela menina brincalhona, quase a palhaça do grupo, acordou de uma hora para outra. Bastou me contarem uma piada e provocou o efeito borboleta de minha transformação. Eu estava pronta para o riso e não sabia. Claro que há muito de desejo, de predestinação, de magia simpática (termo que aprendi recentemente com meu aluno das Artes). Ele contou a piada desencadeadora.
O riso tem sido o meu guizo de energia boa. Sei que nada me faltará tendo voltado pra alegria. A vida me promete dias de sol e acolhimento, entre amigos, pessoas sãs, loucos por vida boa.
O riso tem sido o meu guizo de energia imã.

sábado, 28 de agosto de 2010

Onde está a beleza?

É o que dá ser uma mulher pensadora, as coisas ditas e não ditas sempre me causam inquietação e quando caio em mim passei horas divagando. Geralmente comigo mesma, porque são cada vez mais difíceis os encontros com tempo para interlocuções ou com pessoas que queiram parar tudo para conversar sobre a vida. Desta vez fiquei horas pensando sobre a beleza, quase sempre confundida com juventude.
Olha só a saia justa. Já não é a primeira vez que um homem me diz uma coisa do tipo: 'Você deve ter sido uma mulher lindíssima!' Só pra início de conversa, as pessoas não pensam antes e durante o que falam. Acredito que nem após seus ataques verborrágicos. O que significa esta frase - você deve ter sido uma mulher lindíssima, senão a afirmativa de que você não é mais? Santa idolatria da Juventude, Batman! Não descarto a possibilidade de ter me enfeiado pela vida, claro. Mas gostaria de obter o reconhecimento do mundo de que estou lutando para me manter apresentável, pelo menos não me transformar em uma pessoa assustadora ou como diriam meus alunos da Física, um buraco negro, sugando a luz dos outros com minha fase ou lado tristonho e desencantado com a vida e o ser humano. Mas o que esperava aquele homem ao me dizer isto? Estaria ele querendo me lembrar que minha juventude se foi e com ela minha beleza? A beleza é sinônimo de juventude? O que faz de uma pessoa, uma pessoa bela?
Não sei dizer o que é mais grave neste episódio; se é a falta de tino de meus interlocutores masculinos de ocasião, se é a cultura incorporada pelas pessoas fúteis, se é o meu assombro a esta altura de meu conhecimento do ser humano, se a minha fragilidade diante da consciência de meu envelhecimento. Não sei dizer. De tudo isto me resta o alívio de que ando lidando bem com minha decadência, desta experiência humana que é nascer para morrer. Já cheguei ao ponto de que pouco importa se levarei este saber para outras vidas. Quem vai saber como ainda falaremos de beleza no futuro? Espero que o ser humano consiga vencer esta deficiência em seus processos de emancipação. Que o instinto sexual de escolhas para a preservação da espécie em sua materialidade seja superado pela inteligência espiritual e que outras belezas sejam eleitas para a nossa convivência. Do contrário, ainda penaremos em falsos processos civilizatórios.

domingo, 22 de agosto de 2010

Linha bem fina

As raivas povoam o ar. Tensões e impaciências são atribuídas às explosões solares. Vá entender. Até agora eu tinha conhecimento apenas das influências da Lua. E para ela a gente ainda pode olhar pra se perguntar porque os enigmas nos perseguem. Mas para o sol? Este rei nos domina sem nem olhar nos olhos. Só de pensar nestes deuses me arrepio. Sou tão pequena diante disto tudo. É até confortável me entregar a este destino tão humano. Mesmo sabendo dessa condição existem coisas, coisas - pra não nomear em definitivo -, que circulam entrem nós com as quais fica difícil lidar a cada dia. Uma delas é a raiva. A raiva nas pessoas. Muitas andam por aí e entre nós com ódio de tudo e de todos. Tudo é passível de maldição quando elas abrem a boca. Elas já levantam de manhã irritadas, chutando baldes, prometendo tirar a limpo qualquer palavra dita fora do lugar. Querem a gota d'água para serem tiradas do sério. Ninguém presta para essas pessoas. Chega a ser engraçado quando ao acusarem deus e todo mundo enchem a boca para dizerem que são o primor da ética. Fico me perguntando até onde elas vão com todo esse ódio. Ai, eu me dei conta de que não quero estar com pessoas assim! Não quero ser a juíza do mundo. Não saberia ser nem juíza de futebol se soubesse as regras. Sei que essas pessoas podem não perceber que estão se alimentando de raiva e de ódio. Mesmo que coubesse a mim avisá-las temo que se voltassem contra mim. Como aliás, já aconteceu algumas vezes em que tentei mostrar os outros lados das situações. Nada feito. Paguei mico. Fui frita. Portanto, tomei algumas decisões. Que me desculpem os alterados e desencantados com tudo e com todos, mas preciso passar pela vida, nesta vida, tendo por ela toda a ternura que eu possa carregar. E nesse caminho, entre o ódio e a ternura, reza uma linha bem fina. A tal equilíbrio e ao desejo de escolher o meu lado, sou obrigada a fugir de quem tem raiva, de quem tem ódio. Eu quero a leveza dos espíritos amorosos e repletos de compaixão. Ao longe, e somente ao longe, poderei orar pelos raivosos e pedir que essas explosões solares não causem maiores estragos.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Tenho ouvido

Tenho ouvido Leila Pinheiro. Claro, também tenho ouvido. Ouvido de ouvido, de ter sensibilidade para a afinação sonora. Mas também tenho ouvido no sentido de querer ouvir. E isto tem sido um prazer que há muito não experimentava. Parece-me que andei me perdendo em querer falar mais que ouvir e cantar, também, mais que ouvir uma boa música. Nos últimos dias, ouvindo Leila toda vez que entro no carro e durante o caminho que percorro, percebi que existem algumas músicas que não podemos e não precisamos aprender a cantar. Elas são tão-somente para ouvir. Elas também não precisam ser a música de nossa vida, de nosso passado ou futuro. Elas podem ser simplesmente o momento vago que escolhemos ou fazemos para deixar a música nos invadir. E aí a música é só música. É outro experimento. Outra sensação. Calar se torna melhor que falar, ouvir se torna melhor que cantar.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A música me faz falta

Ai como a música me faz falta. Choro ao ver o piano lá estirado agonizando por carícias de ressucitação. O piano se esvai e minha voz calada sonha com harmonias perfeitas. Saio pela casa cantando e ocupando os espaços vazios. Em vão ensaio sozinha a Modinha de Jobim. Consigo ouvir-me e enquanto não saio à rua em busca de outros lugares me satisfaço com sonhos e catedrais ecoando minha voz. Minha voz merece, meu espírito em prece deixa; a vontade cresce. Imagino e sinto de ouvido um e arrisco sustenidos como se fosse a meso solo de todos os corais. Oceanos de sons.
Ai como a música me faz falta. Como pode a vida me deixar cantar e depois negar-me este sustento. Esta prece e lamento me cai como um blues ritimado em ondas. Ondas que meu corpo envolve e fica assim vendo nos presságios possíveis os novos momentos de minha presença onde a música também falta. E é lá, com minha saudade e desejo que me darei sem passado e futuro, buscando sentidos pra novas saudades. Assim, vivendo, fazendo da música mais que um estilo de vida, fazendo dela um desejo de viver.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Vícios e círculos

Quando nos empenhamos em descobrir maneiras de ser feliz criamos possibilidades. Merecemos ser felizes, se esta felicidade não custar a vida de outras pessoas. Difícil saber o limite desta entrega. Não há controle sobre isto. A vida prega peças e segue andando sem olhar para trás. Conflitos e seres aflitos são acometidos de situações inesperadas e mesmo assim precisam continuar vivendo. Lembranças podem ser caça níqueis se nossa inteligência estiver em baixa. Nossos sorrisos podem se amarelar em semblantes cansados de tentarmos acreditar na felicidade, mas lá no fundo, lá na raíz de nossa história podemos encontrar a saída. A auto análise é fundamental. Deve ser enfrentada sem rodeios ou medos do que vai descobrir. Podemos nos perguntar sobre o que fizemos com nossa ternura e o que sonhávamos para ela. Podemos retomar nossos seres de fantasia ou seguir em declínio na desesperança, que a avança a despeito de nossa necessidade de continuar respirando. Em meio a essa balburdia de impressões e sentimentos podemos também descobrir se os eternos retornos, os círculos que criamos para poder respirar, não estão nos levando a vícios, como o vício na tristeza, por exemplo. A preguiça ou o desânimo para seguir em frente podem nos empacar nos caminhos e nos levar ao vício em sentimentos menos nobres, pobres, sórdidos até. O vício na tristeza nos impede de seguir em frente. O vício, é preciso reconhecê-lo para combatê-lo, nos consome sem percebermos sua força sobre nós. É o que diriam os especialistas em vícios. Os vícios nos põem em círculos. Mas como todo o ser em recuperação é preciso estarmos dispostos a viver cada dia, um de cada vez, e não nos esvairmos em overdoses de felicidade, de ilusões, porque os tombos por certo serão maiores. O melhor mesmo é se amparar na serenidade, na verdade vista com parcimônia, compreender os círculos e deixar a mente e o espírito abertos a novos sentimentos que nos livrem de qualquer vício destrutivo. Afinal, como seres humanos, estamos em permanente risco, porque viver, viver é a coisa mais difícil que o universo nos impõe queiramos ou não aceitar.

domingo, 1 de agosto de 2010

Pegar o avião?!

Dizem que pra conhecer o mundo de cima e melhor é preciso pegar um avião, viajar, morar fora daqui. Isto me apavora, porque odeio andar de avião. Sinto o mesmo por navios e outros meios que me tirem do chão. Um lance de escada já é alto demais pra mim. Defeito de fábrica, sou desta forma. Mas neste mundo tão globalizado, informatizado, rico em comunicações, em que os povos se misturam e as culturas se aproximam, ainda há quem acredite que é do outro lado que a vida tem sentido. Estão tradicionalmente olhando para o outro lado do horizonte acreditando firme e inquestionavelmente que tudo lá é melhor do que aqui. Isto vem de muito tempo. O que o outro faz é sempre melhor. A verdade está lá fora. Vá lá que seja. Serviços, bens, saúde, educação. Precisamos falar inglês, francês, alemão. Deve estar certo quem diz que importamos de lá somente a forma de vida e esquecemos o conteúdo. Eu diria também que tal conteúdo foi sonegado e que a tal forma foi imposta pelos invasores da terrinha. Mas que terrinha é esta aqui que a tudo acolhe, que tudo ama sem pedir nada em troca? No afã da admiração do outro esqueceu de negociar o conteúdo, não leu o contrato. Há quem tenha descoberto o conteúdo agora e queira ficar lá do outro lado do horizonte. Mas levará de herança a forma. Não a trans-forma, mas tão-somente a de-forma, porque no encontro dos olhos serão descobertos e relevados. Mas aí me pergunto, por que iria pegar um avião pra ver o mundo do alto? Não vejo sentido. Aquele conteúdo não me pertence. Quero achar nesta forma que conheço o conteúdo daqui para recriá-lo em minha natureza. Nossa! Não me façam pegar o avião. Não me façam acreditar que sou menos, porque além de não me interessar por aquele conteúdo, sei que ele não é meu. O meu? Bem, tenho trabalhado nisto a minha vida toda e para isto não preciso pegar um avião. Seria mesmo maravilhoso ver de perto os castelos e outros bens materiais e espirituais que foram erguidos com a exploração de seres humanos? Seria mesmo bom ver as marcas das guerras de perto?
Por isso, de todas as iscas que não quero morder pra que façam me sentir menos, esta é uma delas: eu não quero pegar o avião. Eu não quero saber de lá. Eu quero ver o que está perto daqui. Meu tempo está sintonizado no módulo lento. Slow. Aqui. Me sinto bem.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A solidão de Laerte

Hoje recebi a notícia de que Laerte morreu. Uma morte horrível. Laerte tirou a própria vida por enforcamento. Quando vieram me contar não resisti ao pranto. Bateu um desespero e dó que vinha da alma e da sintonia que eu tinha com ele. Ele foi meu jardineiro por um tempo. Eu cuidava dele. Tinha afeição inexplicável por ele. Saiu daqui faz alguns anos porque metera-se em confusão. Seu irmão havia sido morto e ele se via na obrigação de vingá-lo. Foi-se pela vida por sua conta e risco. Tinha uma vida errante, mas nunca me incomoudou. Essa é a verdade. Andou por aqui pedindo uns trocados e trabalho faz alguns meses. Ganhou o trocado mas trabalho já havia quem o fizesse. Sim, ele sempre pedia trabalho. Dizem que para alimentar o vício que o pobre tinha. Talvez a única coisa que possuía como sua, o vício. Pensei nisto no instante em que fiquei sabendo. Que vida triste teve o Laerte! Desde menino largado no mundo, sem amparo, tentando resistir à pobreza e ao abandono da vida, lutando contra o racismo e o preconceito. Em sua demência e solidão completou enfim o abandono, abandonando-se à própria morte. Eu não me conformo que um ser tenha que viver assim este tipo de vida tão infame. Pobre Laerte. Minha ligação com ele era tão forte que nos últimos dias vinha pensando nele. Esta semana o vi vagando pela estrada com seu cachorro e pensei que precisava orar por ele. Talvez a gente tenha ligações de outras vidas. Nisto passei a acreditar com mais afinco a partir de hoje. Tive pressentimentos de que alguma coisa aconteceria com alguém. Cheguei a comentar em casa. Daqueles pressentimentos que costumo ter, quando uma tristeza me invade e me deixa prostrada. Onde andará aquele serzinho tão pequeno agora. Um jovem franzino de pouco mais de um metro de altura, de pele negra, dentes tão brancos que reluziam quando sorria rara e timidamente. Ninguém cuidou do jardim tão bem quanto ele. Era um ótimo jardineiro. Isto ninguém nunca pôde negar. Ele tinha sonhos como todo mundo. Cheguei a visitar seu barraco uma vez. Comprei as telhas pra ele. Lá havia iniciado um jardim com mudas aqui de casa. Exibia-o orgulhoso. Tentei fazer parte de sua vida, porque tenho destas coisas. Querer apoiar a quem passa em meu caminho. Ou serei eu que passo por eles? Em minha dor por saber do destino de Laerte, choro, choro muito, mas me endireito e acho o momento de desejar que ele encontre o caminho da redenção, do amparo, da paz. Esteja em paz meu querido amigo Laerte. Você sempre estará vivo em minhas lembranças de afetos.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Reconheço na caligrafia

Quando não estou por aqui estou por aí, mas sempre com meu diário de vida. Também preciso da caligrafia, da caneta entre os dedos contando os dias e sobre os dias, falando das manhãs, das dores e das coisas vãs. Vou tecendo linhas sem fim, porque os sentimentos vão assim se atropelanbdo e me mostrando o quanto ainda tenho que aprender. Ponho-me novamente em laboratório com a alma da ciência tentando entender quais são as minhas dúvidas, já que tenho vivido e sobrevivido delas, mais do que qualquer certeza que ainda tive, tenho, terei. O tempo que levo para traçar as letras dentro das palavras e dos sentidos que expresso comunico a mim, e somente a mim interessa dizer o que digo. Digo, quando não estou aqui, neste espaço ciber pra quem escancaro minhas impressões de vida e morte. Ambas na competição dos tempos idos e vindos.
Estes tempos de solidão, inevitáveis a qualquer ser consciente de tanta dor, também trazem sabedoria, mas se, por vício ciente, for organizada. Assim organizo as idéias, organizo as coisas, organizo os temores e as esperanças. Sei viver assim. Foi isto que aprendi desde que cheguei aqui nesta sintonia experimental. Minha razão pretensiosa sabe fazer isto, organizar, auto organizar. Sou assim por dentro, um organismo, e por fora, orgânica, viva, sempre pronta para o caos. Sempre viva, até enquanto envelhece, morre. Orgânica. Auto orgânica. E foi a caligrafia que me ajudou a ver isto. Foi assim ali nas linhas fazendo nós e laços, subindo e descendo, que me reconheci um ser pensante. Um ser pensante nos caminhos da caligrafia. Por certo pensante sim, por pensar tanta bobagem sobre a caligrafia. Mas os bobos, não seriam também eles seres pensantes em minha caligrafia? Eu decido esta realidade, pois ela está em meus pensamentos, em minha caligrafia.

sábado, 24 de julho de 2010

O que já foi nunca será

Dizer nunca pode causar estranhamentos às lógicas probabilísticas, mas mesmo a matemática pode me ajudar. Neste caso, "nunca" trata de duas linhas paralelas quase perfeitas separadas pelo tempo e infinitamente em concorrência, quando seus objetivos são de afastamento do ponto inicial. O encontro delas será de lembranças e estas se diluem no tempo que as separa. Deve parecer confuso este devaneio, mas torno a dizê-lo através de um exemplo e não pedirei desculpas a nenhum matemático. Por exemplo, quando penso em um amor que foi, digo que nunca será é porque seguiremos em duas linhas separadas pelo tempo. O tempo que ampara e separa nossas linhas será testemunha do nunca. Tenho experimentado ao longo da vida, reza aí um punhado de ciência, que o mesmo tempo que alguém leva pra se arrepender de deixar de me amar é o mesmo que levo para ter certeza do nunca e do que já foi nunca será. Principalmente porque passo a fazer bordados com minhas linhas afluentes, novos desenhos de vida, novas linhas entrecruzando-se, pelo simples fato de que o tempo este sim, nunca pára.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Brega ou chique

Nem quero saber se o que entendo por brega hoje tem outro nome. Sei que reconheci o dilema que tenho vivido minha vida toda. Explico. Desde que lia aquela coleção Seleções, muito conhecida nos anos 60 e 70, dias em que era uma das leituras disponíveis em minha casa, já me inquietava com estilos de vida. Nossa referência básica era o estilo de vida americano. Esta coleção se dedicava muito aos estilos errantes. Gente que vivia em trailers e coisa assim. Estilo bem popular nos Estados Unidos. Na época eu sonhava com uma vida assim. Andar pelo mundo morando em um trailer. Planejava uma vida básica, sem levar muita coisa, evitando criar uma história com objetos que se acumulam nos aposentos. Sempre me incomodou juntar tralhas pela casa e aquela mania das pessoas que além de fazerem isto - juntar tralhas pela casa -, ainda se desesperam por não ter um quartinho do soca-soca. Ficam lá no soca-soca as peças e objetos substituídos pelas recorrentes ambições de ter mais. O sonho de viver em ambientes limpos de poluição do espaço e visual sempre me atraiu.

Aprender a não juntar coisas sempre pareceu uma boa idéia, mas o que vejo hoje é que das coisas que já possuí tenho uma vaga lembrança, nem mesmo sabendo onde e quando foram descartadas. Muitas tradições e penduricalhos foram descartados sem dó. Da noite para o dia resolvia fazer uma limpa nos distúrbios estéticos que acumulava. Estes fatos vêm se juntar a esta reflexão num momento em que percebo que não tenho o mínimo jeito para decorações de ambientes. Muito embora tenha bom gosto para a escolha de móveis e objetos não chego ao nível de saber combiná-los, porque não tenho tido a chance de comprá-los ao mesmo tempo. Neste caso, o problema é financeiro mesmo. Foram anos construindo uma casa com salário e precisei sublimar o planejamento da decoração. Ficava refém do improviso. Se comprava um móvel ou objeto de bom gosto, este chegava a perambular pela casa por anos, aplicando-se ao multiuso e muitas vezes se tornando um estorvo. Poucos se salvaram dos furacões de descarte.

Hoje que tenho mais tempo para reparar nestas coisas, chego à conclusão de que a falta de condições de adquirir peças de qualidade e chegar a combiná-las, criando ambientes harmoniosos, elegantes e refinados diz respeito à questão financeira mesmo. Isto nunca foi um problema para mim, porque me orgulhava de não querer aderir ao padrão estético vigente da classe média local. Por conta disto, no meu caso, parece que o ser ou não ser brega está na dependência de criar objetivos focados na decoração de ambientes, canalizando recursos específicos para a aquisição de peças básicas que os componham e de, feito o planejamento, perseverar na composição do cenário, até que possa realmente descobrir se sou ou não sou brega. Na mesma proporção, se sou ou não sou chique.
Na verdade, se pudesse descobrir um estilo que não fosse seguir tendências estabelecidas seria realmente a realização de parte dos meus sonhos de viver livre de paradigmas conceituais das estéticas dos ambientes. Em tempo, percebo que minhas inseguranças e incertezas atuais não podem me levar aos botes salvavidas de paradigmas que sempre refutei.

A história que não posso contar pela ausência de objetos adquiridos e deixados durante a vida pode ser refeita com uma decoração quase final. Como dizia Chico Xavier e eu mesma já disse aqui: ninguém pode voltar atrás e refazer o que já foi feito, mas pode construir um novo final.
Em todo o caso, seguindo o que me restou de tradição, um casal de joão-de-barro está construindo um ninho na timbaúva robusta que fica em frente à porta da sala do piano. Isto eu tenho certeza que é chique, pelos meus padrões, porque me enche de ternura e pertencimento.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Vai além do Japão

Quando era adolescente pude usufruir dos tempos e espaços finitos. Infinito se resumia a um sinal matemático e ao espaço cideral. Este era dos astronautas. Estar longe não ía além do Japão. Um furo profundo no chão nos levaria ao Japão. Santa ingenuidade, tão valiosa, vivíamos aqueles mortais tão lerdos e confiantes dos níveis de conhecimentos e sentimentos que pudessem ser acumulados. Entre ciência e romantismo todos sabiam o que não sabiam. Faláva-se em sombras.
Um dia, já mais velha, achei que poderia acompanhar o desenvolvimento inspirado nas ficções. Comprei o meu primeiro computador em 1995, mas já lidava com estas máquinas no trabalho. Fui bancária por doze anos e meio. Sempre preciso dizer este meio, ou mentir pra menos dizendo 12 ou pra mais dizendo 13. Enfim, iniciava minha vida de cidadã independente alfabetizada naquela mídia da informação. A partir dali, quanto mais aprendia, mais descobria que não sabia e mais percebia que não poderia acompanhar aquela evolução. Em pouco tempo restringi meu campo de aprendizagem e me iludi que isto também bastaria. E por aí somaram-se os termos obsoletos, as suas técnicas e equipamentos transformados em tataravôs do dia pra noite. Engraçado é que algumas pessoas achavam que deixariam seu computador de herança para os filhos, assim como se deixa uma casa, um carro.
Ufa! Levei alguns anos para perceber que assim como não se pode conter os avanços da ciência e da tecnologia também não se pode acompanhá-los. Vejo-me envolvida em afazeres poluentes da visão, da atenção, da compreensão e da reflexão. Parece que tenho me tornado uma passageira que pede para o ônibus parar, porque quer descer na próxima parada. Talvez deva descer, talvez não. Talvez deva fazer de conta que a tudo vejo e a tudo compreendo para continuar pertencendo a sei lá o quê. A cada dia vejo mais pessoas imersas nas redes de afazeres e saberes intangíveis, redes confusas imperceptíveis a olho reflexivo, somente a nú. As ações se imbricam, complicam. E temo que não sejam complexas, confusas sim. As imagens são muitas, se cruzam, se sobrepõem, se impõem ao cérebro ainda obtuso. Seria a interface do alargamento cerebral humano? Estaríamos impostos aos processos de apelos à expansão das estruturas cognitivas motivados pelo avanço da inteligência artificial?
O problema é que não se pode acompanhar a complexidade artificial, porque entre as questões cognitivas também se deve considerar as éticas e as estéticas. E estas são as que nos fazem decidir se queremos ir ao Japão.

sábado, 17 de julho de 2010

Ensaio sobre a demência

Seria interessante se eu tivesse fôlego e paciência para escrever um ensaio sobre a demência. A recorrência de fatos e fenômenos esquisitos e instituídos como verdades reais é tanta que às vezes, mesmo em minha iludida lucidez, passo a acreditar que devo fingir que não vejo, nem ouço e que nem devo falar mais nada. Mas não adianta, nasci para falar e se não o pudesse eu escreveria, ou gemeria, ou aprenderia a linguagem dos sinais. Em última instância me faria ouvir por beliscões e pontapés, ou coisa mais radical. Computo minha racionalidade desde menina e não consigo encaixar as sandices cotidianas que vejo por onde passo. Quero ser tolerante com os fracassados, com os oportunistas e com os ingênuos, mas não consigo. Uma certa melancolia me invade e fico nostálgica, lembrando do tempo em que a vida era lenta e as coisas por aprender e entender não eram tantas. O bem era o bem e o mal era o mal. Todos os dias devo aprender novas coisas em novos programas implantados em minha aflição. Devo aprender a lidar com a atualização dos programas do computador, com os formulários inventados no trabalho para melhor controlar, com as tagarelices mundanas repetindo acontecimentos cada vez mais requintados em sua maldade e como lidar com o facismo não tão disfarçado que cresce entre nós. Nossa! Este ensaio que penso escrever talvez não pudesse ser concluído, porque não poderia dar conta dessa totalidade de redes neuróticas, bióticas e psicóticas que me cercam como ondas tsunâmicas. Temo que meu barco a remo seja espatifado. Só me resta criar asas e adormecer na demência vigente, deixando que a vida urgente e necessária me consuma e me envelheça aos poucos, levando minhas palavras e sentimentos para o nível do irreal. Será o bastante para entender que tudo não passa de um ensaio para o dia em que a demência final se estabeleçará. Se continuar a falar, mesmo que sozinha à surdez do mundo, será como registro para os próximos dementes retidos no ciber espaço das infinitas ondas ciderais. Valha-me espécie mal agradecida!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Quando o filho chama

Quando o filho chama não dá pra não atender. Ele diz manhêe e a gente regride aos tempos em que ele era menino, quando tinha febre e o acolhía em meus braços em forma de concha. Uma concha de mãe. Ele adormecia tão seguro em meu colo, tão profundamente, que podia levá-lo pra cama sem suspeita de que despertasse. Tão seguro em meus braços fortes. Deixava-o na cama bem ajeitado e coberto pra que não sentisse frio e voltasse a sentir minha falta. Mas agora são do mundo, são do mundo os nossos filhos . Sabem se virar, mas quando chamam manhêe, com medo da doença, esquecemos nossos próprios medos e criamos coragem pra sair pela mata, como leoa alfa desbravando aviões e aeroportos do pânico próprio.
Quando o filho liga a cobrar de manhã cedinho chamando manhêe é porque é sério. Péra aí filho que a mãe já está chegando. Fica firme. Vou chegar aí, passar metiolate e soprar na ferida e tudo vai ficar bem.

domingo, 11 de julho de 2010

Registro do perfil anterior

Tenho sonhado desde sempre que um dia viveria só de palavras. Elas seriam muitas e eu não sentiria mais a solidão. Sou andarilha e heremita. Às vezes pronuncio palavras malditas. Faço gentes torcerem narizes. Os seus narizes. Tenho a docência como profissão, a música [componho e canto] como paixão e a escrita como alimento. Adoro conversar coisas sérias e bobagens; tudo ao mesmo tempo. Faço questão de acordar cedo e tomar café preto forte com duas fatias de pão misto com sementes de linho. Gosto de tomar chimarrão ao sol, de acariciar minhas cadelas fedorentinhas bem cuidadas, de cozinhar sem compromisso. Gosto de pessoas em pequenas doses. Gosto de inventar e me reinventar. Gosto de gostar. Tenho manias: de esperança, de investir nas pessoas, de fazer obras na casa, de fazer a própria comida, de deixar pra depois o que posso fazer agora, de não ficar de mal por muito tempo, de cair e levantar, de perdoar. Tenho mania de escrever e outras tantas inconfessáveis. Amo demais o planeta onde vivo e não vou gostar nem um pouco se tiver que ir pra outros dos mais recentemente descobertos. Quero ficar mais por aqui pra poder escrever mais e esgotar meu espaço ciber.

Banho dos 3 macaquinhos

Hoje pela manhã resolvi tirar o pó da mesa de centro que tenho na sala. Não costumo juntar coisas, porque sei que depois da riqueza vem a limpeza e aí mais trabalho para fazer. Todos sabem que preciso e gosto de evitar a fadiga. Pois em cima da mesa, além de outras tralhas, tenho aqueles 3 macaquinhos safados, inúteis e cheios de pó. Um tem as patas, ou será que são mãos?. Enfim, um tem as patas tapando os olhos, outro cobrindo a boca e o último, os ouvidos. Juntos não vêem nada, não falam nada, não ouvem nada. Nem sei bem porque comecei a me interessar por estes 3 macaquinhos. Sei que os comprei em uma feira internacional de artesanato quando estava em Natal RN. Eles são esculpidos em madeira. Uma madeira que não sei o nome, mas que é farta naquela região. Ufa! Quase que me pego ecologicamente incorreta nesta confissão. Esperava no máximo falar que meus macacos não tomavam banho. Mas, continuando, tentei tirar o pó dos macacos, mas eles são pequenos demais, cheio de frestinhas e voltinhas. Para não desistir da limpeza, porque já se aproximava a fadiga, resolvi botar os três de uma só vez debaixo da torneira da cozinha e deixar cair água quente neles. Água quente, na possibilidade deles sentirem frio. Lavei bem lavado, cabeça, tronco e membros, meio que xingando aqueles macacos safados e inúteis que ficam ali na mesa sem fazer nada, sempre me lembrando que o mundo está cheio de macacos mudos, cegos e surdos. Fechei a torneira e os deixei lá na pia pra secarem bem antes de voltarem pra aquela mumunha em minha mesa de centro. Claro! Mesa de centro. Não gosto mais destes macacos. Na próxima lavada eles que rezem pra que eu não os ponha na fogueira. É por estas e outras que não acumulo coisas.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Pegar o trem

Foi mais fácil começar a lidar com o cotidiano quando percebi que tentava pegar um trem em alta velocidade. As coisas por fazer, as idéias brotando sem aviso, as pessoas correndo como o coelho de Alice, a papelada inventada todos os dias para cooptações e controle, esta cultura difícil de se apreender, os valores invertidos, as vontades de fazer bonito que andam a solta, coisas tantas, ações recorrentes de incensatez. Nossa! Que lista! Eu não conseguia entender a minha lerdeza e quanto mais tentava acompanhar o trem em alta velocidade, mais aumentava a minha solidão. Via-me dormir e acordar em estações abandonadas, olhando para trilhos esfriados minutos depois da passagem dos vagões. Duvidava do que via, de minha capacidade, de minha energia e até de minha inteligência. Sobravam-me somente os sentimentos de alienígena. Aquele espaço e tempo já não me pertenciam. Quem sabe, deveria tomar uma atitude e jogar a toalha, sair de cena, cuidar de meu caracol, ficar em casa. Humm, tão convidativo!
Mas, assim, desavisadamente, de uma hora para a outra, sem que eu pudesse anotar no diário o instante exato dos acontecimentos, as situações começaram a mudar e pude ver nos sorrisos das pessoas, com quem passei a conversar por acidente, que meu lugar ainda é ali, naquele espaço confuso de tempos desencontrados e de jovens procurando ajuda, querendo saber afinal o que e porque esse tal trem da vidaestação ultrapassa nossas forças, nos intimida e nos desafia a lhe acompanhar. É o trem do nosso tempo. Supertempo. Superespaço. No entanto, de que me valeria tanta vida se não fosse para tomar sua carona e de um jeito manhoso e sorrateiro sentar perto dos freios e da janela pra dar a mão aos que ficam parados nas estações.

Mudei o tempo para tempos

Nova fase, mudei de nome, mudei de endereço, mudei de cenário, mudei. Isto é bom. Fazer isto com esta facilidade da internet é o grande barato. Este blog já foi 'Monólogo das Paixões', já foi 'Tempo Solidão' e agora será 'Tempos de Solidão'. Aos poucos fui me libertando dos acessos que me prendiam ao passado. Meus textos contam uma história e não serão apagados, mas o círculo dos leitores deve mudar. Não podemos passar nossa vida sempre escrevendo para as mesmas pessoas. Sabemos que parte do que escrevemos é feito de nós e dos outros. Os outros, aqueles que fizeram e fazem parte de nossa história. Nós nos constituimos dos coletivos, principalmente os mais íntimos. Quero deixar aquela intimidade para trás e não consigo fazê-lo enquanto sei que os leitores que preciso esquecer continuam ali espiando meus sentimentos. Hoje a internet nos permite até ver quem nos vê. Isto é incrível, é o que se pode chamar de contra espionagem. Muito legal. Isto me ajudou a fazer uma ruptura final na vida que vivi nos últimos anos. Mudei de nome geral. Estou na vida.

domingo, 4 de julho de 2010

Entardecer, ops!

O gosto do domingo se amarga ao entardecer. Alguma coisa que lembra a todos que não nascemos pra trabalhar. Segundas-feiras são temidas por mais que os dias prometam sol e bons acontecimentos. Também passei a temer as segundas-feira com a idade. É difícil ter um semblante sereno nestes dias da semana, principalmente logo pela manhã. Gostaria que se adotasse a moda de máscaras. Alguma coisa leve autolimpante com opções de estrelas de cinema. Assim eu não teria nenhuma preocupação e poderia sair por aí olhando pra quem quisesse sem causar-lhe susto ou preocupação. Dentro de mim mora um anjo, sem asas eu sei, mas nem sempre consigo mostrar porque tem estes dias de segunda-feira do tipo transformação de equilíbrio, reacomodação socioambiental, readaptação com a espécie.
Quem sabe os domingos nos distanciam dos medos de encontros e descansamos a guarda. Os anjos da guarda tiram férias nos domingos e custam a retornar na segunda. Temos que acabar com estes indultos. Ficamos sem proteção com a demora dos anjos. Sem eles nosso semblante finge sua presença, mas somos amadores, não disfarçamos bem e precisamos de máscaras avulsas, óculos escuros e chapéus enterrados na cabeça. Parece fashion, mas não é não. Quem me dera ser amada por detrás da máscara, saindo por aí e sabendo que me espias e sente saudade. Ops!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Sonho de mim

Deslizava sem querer pelas frestas da estrada e me vi sendo levada pela correnteza de uma chuva torrencial de inverno. Confundida com a lama chocolate com café passei despercebida pelos salvadores do mundo. A lama engrossava, a chuva aumentava. Nem sei por onde passei. Fui levada sem direito à opinião.
Já era de manhazinha quando dei por mim no encosto de um sofá abandonado na beira do rio. O canto dos pássaros me fizeram pensar que estava em casa, mas não estava. Eu estava em algum lugar longe de casa, longe do meu aconchego, longe até de mim. Quis entrar em meus apavoramentos de costume, mas alguma coisa em mim já estava em cicatriz com fiapos de casca e resolvi tomar atitudes de coragem e dona da situação. Levantei do sofá devagar com receio de desequilíbrio e fui sentindo o chão pra ver se movia ou se estava pronto pra receber meus pés temerosos. Já de pé, olhei em volta ainda com a vista embaçada e dei por mim sentindo a carícia do vento. Estava viva enfim e sobre meus próprios pés.
Pensei em vida com sonhos de futuro, em fazer coisas como quem crê em tudo, como quem acredita que tudo vai dar certo e que nada, nenhum passado ou chuva podem provar do contrário. Respirei fundo, ouvi os pássaros cantando mais alto, mais forte e acordei. Estes eram os pássaros em meu jardim. Sonho de mim.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Dias repletos

Têm razão aqueles que dizem que precisamos nos abrir para experimentar novos olhares sobre nossas realidades. Hoje é um daqueles dias em que voltei a experimentar a vida repleta de felicidade e reconhecimento de meu potencial para ser feliz. Alguma coisa em minha performance de ontem, quando e enquanto cantava para aquele grupo de pessoas, fez surgir em mim um novo estado de espírito, um estado de graça. Não sei quanto tempo isto vai durar mas é muito boa esta sensação de ser admirada e bem-vinda em algum lugar, em algum momento, por menor que seja. O convite para ir cantar teve o efeito de aquecimento de minha voz, de minha crença, de minha esperança em dias melhores com e pela música. Voltei a saber que posso fazer coisas legais e visualizar momentos de realização com pessoas e que isto é tudo de bom. Têm mesmo razão aqueles que dizem que não podemos nos fechar à convivência com pessoas e ainda mais quando elas nos chamam. Foi um presente. Experimentei coisas que precisam ser aperfeiçoadas para que eu possa retribuir melhor à confiança que depositam em mim quando me chamam para cantar. Sei que fiz mais que cantar. Recitei um poema e falei de minha preocupação com a Educação Ambiental, que precisa dar um jeito de levar mais esperança do que medo, mesmo que nossas pesquisas indiquem a catástrofe. Descobri ali que estes momentos podem ser recheados de várias texturas de expressão e comunicação com os presentes, além da música. Estou feliz. Estou repleta deste momento, desta experiência feliz.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Cantar

Nesta semana vou cantar no momento cultural da II Semana do Meio Ambiente, na Furg. Os alunos me convidaram. Fiquei feliz. Adoro ter a chance de cantar. Vou estrear um solo, a capela. Pretendo recitar um poema também. Contar alguma história talvez. O que está me motivando é poder realizar uma coisa que venho querendo fazer, levar a platéia a cantar junto comigo. Penso que momentos culturais em que a música está presente é o melhor momento para fazer as gentes cantarem junto. A experiência estética do cantar é para mim a chance de reunião, de tecer junto os desejos de felicidade ou de comunhão de tristezas. Cantar é para mim a possibilidade de acolher e despertar solidariedade. Quando cantamos queremos ser ouvidos e queremos ouvir o retorno da voz que baila pelo ar. Estou ansiosa com o dia de amanhã. Como sempre, uma apresentação me deixa ansiosa, mas estou feliz também porque vou mostrar o que as pessoas querem ver. Elas pediram que eu cantasse e não há nada melhor do que isto para alguém que ama a música. Amo cantar, é como se eu saísse de dentro de mim e me deixasse pairar sobre o mundo pra poder ver a beleza que há em mim e que não quero perder. Vendo minha beleza posso ver a beleza do outro, beleza que às vezes turva e se perde na curva de suas pretensões de ser feliz a qualquer preço. Amanhã eu cantarei com o coração e me deixarei pairar sobre o mundo pra continuar vendo a beleza em toda a parte.

domingo, 30 de maio de 2010

Enxadas e sossêgos

Olho pela janela e o vejo no jardim recortando os canteiros, mesmo depois de tomar seu banho, quando achei que iria sossegar o pito. Incrível a diferença que a química pode fazer a uma pessoa. Hoje pela manhã comentávamos sobre o bem que alguns medicamentos podem fazer a quem, por algum motivo, perde as forças para lidar com a vida. Pelos anos que ele passou sem antidepressivos posso imaginar como sofreu com a dificuldade de manter o equilíbrio. Lá está ele agora cuidando dos canteiros, um a um, sem pressa. Faz o trabalho e vem sempre me mostrar e eu certamente já me disciplinei a dar-lhe atenção procurando notar os detalhes e elogiar sem exagêros. Na verdade, tenho demonstrado que o cuidado que ele vem tendo com a casa e o jardim, e até comigo, tem sido muito bom, digo que estou feliz por ele estar aqui. Às vezes preciso vigiar se está tomando os remédios para estar segura de que não há dissimulação, já que isto é comum nas pessoas que arrastam histórico de alcoolismo, mas a transformação é visível até no semblante. Ele está mais tranquilo, mais confiável, embora a vida tenha me ensinado a não confiar totalmente em evidências. Neste momento o vento deu sinal de visita indesejada e ele deu o serviço por encerrado. Refugiou-se no atelier.
Incrível a mudança do atelier. A cada dia ele cria mais uma geringonça, tudo no detalhe pra facilitar acesso e uso das ferramentas. Parece que enfim o atelier que construí pra ele é um lugar ocupado de criação. Nisto combinamos como irmão e irmã. Somos criativos. Estamos sempre inventando um detalhe e ele não mede esforços pra encontrar soluções. É como se a vivenda fosse uma ilha de sossêgo e inventividade. Esta é uma das razões de eu gostar de voltar pra casa, de estar em casa. E este talvez seja também o problema de ter preguiça de sair de casa. Aqui me vejo envolvida em criação. Criação quando faço coisas na casa e no jardim, quando reflito, quando leio, quando escrevo. Por isso talvez seja pertinente a expressão 'nada é melhor do que o nosso lar'. Deixe estar até que algo ou alguém me roube está atenção ensimesmada de preguiça e recolhimento.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Resgate de mim

A solidão é bela quando em mim o silêncio cala. Minha imagem refletida no que fazia de mim a afirmação da alegria interrompida retorna-me à razão; a razão esquecida pela crença na confirmação do desprezo e da vida finda ditada pelo outro. Ah, quanta insensatez desprevinir-me assim à fraqueza dos impuros. Já é tempo de balançar as contas brilhantes do tabuleiro. Novos arranjos refletirão o brilho guardado em mim, esquecido por mim. O brilho detrás da cortina que aceitei ser fechada, por inexperiência, por achar que já sabia tudo da vida, por pensar que amava, por querer aprender a ceder. Vejo que era mais sábia quando ditava as regras de minha solidão. Eu dizia, quem quiser aportar em meu cais precisa saber amar. Não é pecado ser só. A solidão nos garante a individualidade. Saber amar e ser só talvez seja a grande experiência. Amar talvez seja isto afinal. Resgatei em mim a re-visão do futuro.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Listando coisas boas

Individualidade, casa própria, jardim, cachorros, pássaros inquilinos, filhores em geral, dia de sol, dia de chuva, lua cheia, água, água limpa, ondas do mar, maçãs, trabalho, ler de manhã, escrever sem interrupções, café passado na hora, tv sky, conversar calmamente, azeite extra virgem Galo, torta de chocolate molhadinha, chocolate meio amargo, céu azul, brisa suave, filmes sensíveis, transformações estéticas em geral, roupas na corda, roupas novas, sapatos confortáveis, bolsas com bastante compartimentos, deixar o cabelo crescer, o primeiro beijo, receber um telefonema esperado, conferir um saldo credor, trocar de carro, terminar de pagar um empréstimo, receber aumento de salário, ficar curada, ter remédio pra quase tudo, encontrar o próprio coquetel de cura, dormir a noite toda sem ter que levantar pra ir no banheiro, acordar pensando no café com pão novo, fazer sexo depois de dormir bem, o gozo depois do primeiro gozo, desmarcar compromissos indesejados, continuar tomando vinho depois do jantar dizendo bobagens, aceitar as pessoas como elas são, saber que alguém que mora longe pensa em nós, ser a mãe de alguém, viver com pessoas que nos respeitam, fazer planos, participar dos planos de alguém, aconselhar os jovens que nos procuram, poder ajudar alguém desinteressadamente, perceber o presente como única certeza e se deixar viver.
Deve haver mais coisas pra esta lista, mas no momento não lembro. Se não foram listadas ainda o serão.

sábado, 22 de maio de 2010

Lista de tarefas

O sábado amanheceu entre o sol e o cinzento, mas dava pra ver que o clima chamava a fazer coisas. Eu tinha uma lista de tarefas se amontoando em minha culpa. Precisava limpar a casa, ir ao super, agendar pagamentos eletrônicos inadiáveis, limpar a piscina, que transborda por causa das chuvas, retocar as luzes, porque as raízes brancas já aparecem, lavar roupa, ver as mensagens que não vi ontem. Ufa! Muita coisa para um dia só. Não daria conta. O negócio era apelar para minhas estratégias anti estresse. Fazer somente o inadiável. Foi então que resolvi pôr roupa na máquina e deixar lavando, ir direto ao super e comprar somente o necessário para não me demorar, agendei o pagamento do título, voltei pra casa, guardei as compras; fácil. Fiz meu chimarrão, botei a roupa na corda e decidi que só varreria a casa e poria os tapetes no sol e vim ver as mensagens. Fácil decidir não limpar. É só decidir e pensar que varrer já é uma grande coisa, afinal a casa é minha e limpo quando me der na telha. Botei mais roupa na máquina, que já pendurei antes do almoço. Já havia comida pronta que sobrou de ontem, só cortei bem fininho um molhe de couve e tudo ficou bem gostoso e quentinho. Comi pouco e vim acessar o blog. De minha mesa avisto a piscina. Ainda está lá cheia demais fazendo ondas querendo transbordar. O sol já esfriou e começa a ventar. Fico imobilizada e nem aí pra isto. Sei que vou limpá-la, mas quando der. Hoje é que não será, porque esta reflexão toda está me dando um sono e o sofá, fazendo seu papel mobiliário, está me chamando. Só falta pegar a colcha e um travesseiro [esta é uma das tarefas de que mais gosto ultimamente] e deixar que a cachorra me siga e suba depois que eu me ajeitar confortavelmente. O cabelo pode esperar. Deixe que as raízes apareçam. Este é meu estado natural, meus cabelos reais são brancos afinal. Esta tarde promete. De alguma forma sinto como se minha lista de tarefas tivesse sido cumprida. Não sei porque sou assim, mas sou, gosto de tomar consciência das listas de coisas por fazer e adiar ao máximo possível o que precisa ser feito. Guio-me pelas urgências. E minha urgência maior é deixar o tempo passar assim, impunemente. Isto me faz bem. Ah! Ainda não varri a casa. Quem sabe amanhã.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Assinar o divórcio

Hoje recebi o telefonema do advogado para ir ao cartório assinar o divórcio. Não senti nada. Foi uma coisa natural, sem choque. Senti um alívio porque esta história chega ao final. Uma página virada. Nestes últimos dias, passado o terror dos últimos meses, com todas as decepções, senti alívio que tudo terminou. Minha vida começa a ver adiante. As coisas estão surgindo aos poucos. Novos caminhos se apresentam. Vou fechar esta porta, enfim. Não quero mais saber de arrependimentos, nem lembranças, nem nada. Quero esquecer tudo o que me aconteceu, como se não tivesse existido. Simplesmente perder a memória deste intervalo de tempo, porque nada restou além de desilusão. Mas esta desilusão transformou-se em auto-conhecimento. Hoje sei mais sobre mim, muito mais do que pensara poder saber. Nada e nem ninguém arrancará mais isto de mim. Eu sou uma mulher com poder, que foi abatida sem aviso, mas que renasce da morte. O divórcio, na verdade, me cai bem. Nunca mais serei solteira, mas também nunca mais serei casada. E para quem diz que não se deve dizer nunca mais, eu digo, mais que nunca, eu quero é paz e liberdade. Casamento é prisão e esfacelamento dos mitos, já deu pra aprender e daqui pra frente, do tempo de vida que me resta, devo dedicá-lo à liberdade. Saber que ser livre e sozinha podem ser a mesma coisa, estou disposta a pagar o preço.

domingo, 9 de maio de 2010

Um mundo assustador

Não adianta contemporizar as muitas situações que tenho vivenciado. O mundo me assusta. O poder da comunicabilidade das notícias sucessivas da ruindade humana me apavora. Quando parece não haver mais nada para exercitar a maldade este ser inventa outra. Crianças, velhos, moços, mares, gaivotas, montanhas, casebres, palácios são arrasados da noite para o dia. Dia de caos. Dias seguintes de mais caos. Lido com jovens diariamente e eles também me assustam. Temo pela esperança deles. Quando eu era jovem tínhamos sonhos de mudar o mundo. Além da paz, queríamos a justiça social e a liberdade para criar coisas, coisas belas. E não admitíamos que nada e nem ninguém nos tirasse a esperança de mudar o mundo. Os jovens de hoje se agarram a tradições porque estão sem paradigmas, eles são cada vez mais tradicionais porque não viram nossos sonhos se realizarem e fazem de nossas falas a surdez do futuro. Quando tento levar-lhes a importância da resistência, de continuarmos tendo idéias e empenhando esforços para mudar o status quo que eles mesmos já criticam, porque são inteligentes, eles respondem que não adianta nada, que tudo a sua volta indica que serão fracassados se tentarem fazer diferente. Eles respondem que não conseguirão lutar contra a obviedade da contradição. Fico cansada diante disto tudo. É difícil fazê-los entender que além de não sabermos o bastante não poderemos prever aonde iremos parar com nossos atos, mas devemos saber o que é certo e o que é errado e nunca desistir antes de começar. Descobrir o que é certo parece ter perdido o sentido, porque eles só se importam com a aplicabilidade imediata do que aprendem. Não conseguem entender que se aprendermos somente o que é aplicável deixaremos muitos elos para trás. Foi o que fizemos até agora como espécie. Deixamos muitos elos perdidos e é por isso que não conseguimos compreender e apreender a crise da modernidade. Eu temo pelos jovens tanto quanto temo pelo planeta. Eu gostaria de achar que eles saberão conduzir esta nave.

domingo, 2 de maio de 2010

Cortei as unhas

Depois de aguar o jardim, não tem chovido, liguei o computador pra ver as mensagens, e continuar a leitura já iniciada há alguns dias. Notei que as unhas me atrapalhavam com as teclas. E não era de hoje que elas ficavam quebrando e pegando nas coisas. Resolvi cortá-las rente. Ufa! Que alívio ter unhas curtas. Ficamos sem garras. É como se assumíssemos desistir das lutas, ficamos indefesas bem dizer. Se precisar delas como ferramentas ou para me defender de corpos estranhos não bem-vindos terei que lançar mão de outra coisa. Mas também é um alívio porque podemos dizer que ficamos impossibilitadas de lutar, portanto, que não venham nos obrigar a tomar as mesmas atitudes de tempos mais combativos, em que enfrentávamos qualquer situação com a força de uma Shena, Mulher Maravilha, Biônica, Lara Croft, essas mulheres. Ai, cansei de fingir persistência e resistência. Jogo a toalha, saio de cena, penduro a pena, me atiro no sofá, quero dormir até que alguém me esqueça. Desisto de qualquer luta, cortei as unhas, estou desarmada, não quero nem conversa fiada. Vou meditar, lixar as unhas todos os dias, mantê-las curtas, fora da escuta, farol baixo, respirando pouco pra não me exaltar e não sair mais deste sono da desistência de putas lutas que não levam a nenhum lugar .

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Constrangimento

Pensei que poderia continuar dando vazão aos meus impulsos para o debate, em busca de razões múltiplas para compreender o incompreensível. Esta minha mania de querer saber mais do que o mundo menos sabe tem me deixado em maus lençóis. Procuro me refazer a cada mancada, a cada mal entendido, a cada descortesia, mas estou ficando mole. Quando tento dizer alguma coisa parece que vou causar um reboliço e isto tem me apavorado de um jeito que perco a vontade de me expor. Nos últimos dias pude ver que os ambientes estão cheios, digo contaminados, de gente sem pretensão de verdade, sem finesse para ser contrariado. Essa gente sai gritando e tentando vencer pela fala mais alta. Na verdade, impondo-se no grito, quase parecendo um touro de peito inflado de desenho animado. Em meu último episódio de tentativa de diálogo fui humilhada em frente a várias pessoas, que ficaram caladas. Na verdade, pálidas olhando a cena. Fiquei tão constrangida que só consegui murmurar que não podia ficar naquela reunião e me retirei em câmera lenta, achando que aquilo era surreal. Realmente não consegui ficar ali. Pressenti que teria uma crise de pânico. Não sei se me assombrei mais com os gritões ou se me assombrei com aqueles que ficaram calados, me vendo ser constrangida a não falar. E eu só queria exercer o meu direito de fala no grupo. A cada dia vejo que aqueles que reivindicam a reflexão são tidos como entrave ao bom andamento das reuniões que precisam ser rápidas e onde se decide coisas importantes. E pensar que se trata de um episódio ocorrido em uma universidade, aquela que deveria primar pela reflexão. Isto tudo é constrangedor.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Espinhos da coragem

Os espinhos de minha coragem são ponteagudos e a caminho do céu. Eles brotam todos os dias e cada vez mais se acomodam em minha carapaça, surpreendente torpor de espera do inevitável. Eles, os meus espinhos, reluzem a qualquer brilho e refletem a lua nas noites frias em que espio a vida pela janela. Os sonhos estão guardados no sono que não visito faz tempo. Minha vigília é sentinela romana, presentindo meteoros buscadores de vida alienígena. Quando penso que vou à loucura, me emociono com os filhotes sem pelagem dos marsupiais mostrados na TV. Minhas janelas internáuticas e televisivas me avisam que o mundo é grande demais para mim. Tento então afiar meus espinhos e sair às ruas como dona quixote indiferente aos caos da vizinhança. Mas sou acordada viva do pânico adquirido com o turbilhões de emoções de pura vida, de pura carne e consciência excessiva. Talvez o grande verso seja encontrado na singela ignorância de minhas tentativas de virar uma mulher loira. Minha coragem precisa deste adereço, desta derradeira experiência de aloiramento capilar e das idéias de minha rigidez morena. O loiro como adereço fútil. Penso que a combinação de meus espinhos de coragem adornados por uma longa melena loira me levará finalmente para o mundo dos meteoros e dos super-heróis. E a partir daí, misturados, talvez encontre a paz e a aceitação da insanidade terrestre.

domingo, 18 de abril de 2010

A luta do solitário

Parece que estes momentos de maior calmaria tem me deixado ver o quanto ele está lutando consigo mesmo. Abaixo de medicamentos para superar as crises de abstinência ele procura se manter ocupado. Preciso estar atenta às entregas exageradas que costumam acontecer quando resolve dormir demais. Tenho as minhas coisas pra fazer e é claro que não posso ser babá de ninguém, mas afinal ele é meu irmão e precisa de ajuda pra superar a vida errante que teria começado ainda quando menino e que não mereceu atenção especial dos adultos ignorantes de nossa época de infância. Hoje as coisas parecem mais fáceis. A informação educa até as crianças. Só o adulto que não quer ver não descobrirá o que está acontecendo de errado com seus filhos. Mas naquela época a vida era vivida meio aos borbotões, sem orientação nem para crianças e adolescentes e nem para pais desavisados. Ainda mais uma mulher sozinha criando seus três filhos. Ele se perdeu por caminhos difíceis e de todos os infelizes afetados por seus erros ele foi o maior atingido, com certeza. Sua vida se perdeu em vícios e prisões. Sua saúde é debilitada e sua mente, que um dia foi brilhante, já não tem a mesma lucidez. Seus erros lhe perseguem todos os dias e todas as noites. Quando posso estar em casa, geralmente trabalhando em minhas intelectualidades, o vejo quieto em seus afazeres domésticos e de marcenaria. Ele fica distante, triste, calado e só fala quando lhe dirijo a palavra. Tenho que respirar fundo e agradecer ao universo por poder acolhê-lo. Ele só tem a mim. E eu, pelo que tenho concluído, só tenho a ele. Ainda sou mais afortunada pelos amigos que penso ter. Mas ele, ele vive na mais completa solidão. Paga todos os dias pelos seus erros, não com o desabrigo, não com a fome. Ele paga com a extrema solidão.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Duas tartarugas

Sonhei com duas tartarugas. Tão lindas! Estavam à sombra de uma árvore em meu jardim. Quando as avistei tentei mangueirá-las com suavidade. Na hora eu regava as plantas. Era final de tarde. Sei porque não havia muito sol e o dia tinha sido bonito. Eu trazia este gosto de dia bonito. Ao sentir a água sobre seus corpinhos verdes elas começaram a andar esparramando-se nos pedriscos de uma parte da estradinha que vai da casa ao atelier. Não queria assustá-las por isso comecei a falar com elas dizendo, naquele tom idiotizado que falamos com os cães, do tipo, calma que não vou machucá-las, só quero umidecer seus casquinhos! Óh! Venham aqui, para onde vão? No sonho, elas se distanciavam de mim, mas tratei de acompanhá-las. Queria saber aonde iriam. De repente me vi no centro da cidade acompanhando as duas tartarugas. Notei que se aproximavam da praça Tamandaré. Lá tem um lago artificial desde muito antes de eu ser criança. Já acordada lembrei que há muitos anos [eu tinha lá os meus 12 anos] eu e outras crianças da quadra resolvemos salvar os peixes e tartarugas daquele lago, porque a prefeitura estava fazendo uma limpeza. Eles esvaziaram o lago para limpar o fundo. Nós costumávamos frequentar a praça de passagem e quando vimos aquilo ficamos assustados e muito, mas muito revoltados. Cada um correu a suas casas e pegamos os baldes que podíamos carregar para salvar os peixes que pudéssemos carregar. Eram latas de tinta vazias, baldes, tudo que fosse recipiente servia para salvar os peixes da Tamandaré. Até os pequenos, os irmãozinhos, se envolveram. Os operários da prefeitura olhavam pra gente e diziam que não adiantava fazer aquilo, que os peixes não resistiriam, que nossas mães não deixariam que ficássemos com eles. Nós respondíamos que era somente enquanto limpassem o lago. Que nada! Nossas mães resistiram o quanto podiam. Ocupamos os tanques e baldes da casa por algum tempo, mas pouco a pouco os peixes foram morrendo e não sobrou um que pudesse voltar para o lago. Aquele serviço de limpeza parecia não acabar mais.
E lá estava eu sonhando com a mesma praça, acompanhando as duas tartarugas. Mas tartaruga representa longevidade, por isso não me assustei com o sonho. Elas corriam para um tanque e quando se atiraram naquela água fresca e cheia de algas, pensei que ficariam seguras. Eu já podia acordar. Sonho meio doido. Mas parece que o que vale dos sonhos não são os sonhos, é o que eles nos levam a lembrar. Gostei de lembrar que desde menina meu impulso sempre foi o de atender, de cuidar do outro. Mas por que será que eram duas tartarugas?

domingo, 4 de abril de 2010

O vento de Páscoa

Parece que todas as Páscoas são iguais aqui no reino do vento. Que eu me lembre a Páscoa tem sempre este cheiro, este gosto de vento e chegada do frio. A diferença sempre foi ter ou não ter ovinhos de Páscoa. Igual também é esta sensação de renascimento, este gosto de vida a espera de mais vida. Quem dera fosse sempre esta impressão de pascoalidade no ar. O sol faz que vai mas não vai, a casa aberta de chão brilhante, o cheiro de limpeza feita por mim. Os planos brotam assim de um jeito esperançoso. Faço contatos, amarro projetos, sonho, inspiro autoconfiança de dias melhores. O vento sopra, a cachorra suspira, o mate é quente. A dor se esvai; deixo que ela crie outros caminhos pra longe de mim. Eu quero é vida, nova, bem nova, longe de velhos costumes, velhas idéias, velhas e sacrificadas pelas decepções. Quero novos seres, mais humanos e sensíveis, seres inteligentes. Talvez alienígenas, mas inteligentes e sensíveis. Quero um tipo de vida nova que me arrepie e saiba mexer comigo nos lugares certos. Que me faça acreditar em intenções primeiras, porque é nelas que a vida se torna verdadeira. Quero a verdade, como a verdade do vento de Páscoa soprando em meu rosto somente pra me lembrar que estou viva. Vivinha da silva.

quarta-feira, 31 de março de 2010

Cão de guarda meigo?

Quando aceitei que meu filho trouxeste uma cadela pit bull para casa fui logo condicionando sua vinda a um treinamento que a mantivesse meiga e obediente. Ela foi criada com todo o carinho e mesmo que às vezes nos assustasse e abocanhasse as pernas das visitas na maior parte do tempo estava sob controle. Ela passou a ser o símbolo de segurança na casa. O cartaz afixado no portão já assusta qualquer ladrão. Afinal, é uma pit bull. Acontece que agora ela já tem seu espaço adquirido na casa, já está um pouco mais velha e de vez em quando sai do sério. Fico querendo ver a meiguice nela mas ficamos nos relacionando com a luta de posse de controle pelas situações. Quando ela faz alguma coisa errada sabe que não vamos gostar e aí vem a sua encenação de meiguice deitando-se no chão de barriga pra cima esperando carinho e perdão. É uma manipuladora. Ela sabe que não vamos bater numa cadela indefesa.
Outro dia assisti a um programa sobre treinamento de cães em que a treinadora dizia que quando o cão se deita está na verdade querendo dizer para nos afastarmos, porque ele pode atacar. Poderá estar no seu limite. Olha só, quem diria! O cão está dizendo pra nos afastarmos e quando lhe fazemos carinho, ou não fazemos nada, estamos nos humilhando pedindo desculpas. Olha só que loucura! Cadê a meiguice então? Quando achamos que temos um cão de guarda meigo, na verdade temos um manipulador, que a qualquer momento pode se voltar contra nós. Isto me leva a crer que um cão de guarda meigo não existe.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Sol Ray Ban

A cor do sol de outono é diferente mesmo. Cheguei em casa e ele ainda não havia desaparecido. Fiquei no jardim um pouco com as cachorras. Preparando a fogueira da noite sabia que estava em boa companhia. Hoje é noite de lua cheia e meu lado insano se avizinhava. A cor do sol Ray Ban reluzia o verde claro dos pingos de ouro recortados. São arbustos podados em formas redondas. Gosto das formas redondas. Redondas como o sol, como a lua, como a terra. Fiquei ali por um tempo deixando que o sol desse a deixa pra lua. São meus guias pra me integrar à natureza mãe. Logo que a lua se mostrava toda fiz o foguinho em sua homenagem. Fiquei ali vendo as folhas se consumirem e aquecerem minh'alma. A lua é maravilhosa, mística, mágica, mas a lembrança do sol Ray Ban não me saía da cabeça. Talvez seja porque eu sempre esteja ligada no amanhã. O amanhã me espera, pra eu ver outro sol até que reluza o Ray Ban, deixando que a vida passe sem pressa de chegar a lugar algum.

Mulher de que tipo?

Nas últimas semanas tenho me deparado com entendimentos diversos sobre o tipo de mulher que os homens gostam. Parece que o tipo submisso está ganhando mercado. Aí me pergunto sobre o motivo disto estar acontecendo se afinal já houve tantos avanços nestas questões de gênero! Passamos pelos momentos radicais do feminismo e havíamos chegado à conclusão de que homens e mulheres deveriam se relacionar bem para progredirem juntos e independentes. Mas este fenômeno de um crescimento no número de mulheres objeto, não só sob o aspecto da mídia [as peladas em geral], mas do número crescente de mulheres que preferem ser do lar e fazer de seus homens os provedores da sustentabilidade da família me cheira muito mal. Fico me perguntando se não é o retorno do machismo com força ainda não conhecida. Um fenômeno a ser anexado à crise da modernidade. Desculpem-me mas sou culta. Não consigo evitar.
Parece que a eleição de mulheres aparentemente burras significa a não competição pela dominação do bando, das vontades individuais, do mercado de trabalho num sentido mais ampliado. Digo aparentemente burras porque há um grande número de mulheres confessas que admitem que a manipulação do homem rende mais do que tentar competir com ele. Fingir submissão faz parte da manipulação.
Mas será que isto vale mesmo a pena? Será que isto é realmente bom para ambos, manipuladora e manipulado ou vice-versa? Qual a razão disto tudo senão viver de aparências? Não seria uma forma de parecer que se encontrou o melhor jeito bom de viver? Como será que fica o nível de confiança mútua? Será que realmente isto faz as pessoas felizes ou o que as faz feliz é viver se enganando?
Sei lá o que isto significa. Já tentei me imaginar fingindo burrice para manter um relacionamento, mas não consigo. Minha inteligência vive me traindo. Acabo argumentando sobre as coisas e me enebriando com o avanço na minha compreensão do mundo e de mim mesma. É, eu nasci para ser inteligente e não negar meu tipo de mulher.
É claro que posso ser sedutora. Sei que sou. Muitos de meus amantes já me disseram que sou uma ninfeta. Claro, eles contribuiram para isto. A lembrança disto mantém minha libido em dia. Mas de jeito algum vou renunciar a minha capacidade de questionar a vida e de me deliciar com as leituras e interpretações destas. Jamais vou deixar de buscar uma sabedoria. E para os que confundem sabedoria com velhice, sinto muito, eu diria que são burros.

sábado, 27 de março de 2010

Novos finais

Dizia Chico Xavier que ninguém pode recomeçar do início, mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim. Esta frase, que tenho visto na chamada de um documentário a ser exibido em breve, tem me ajudado a reencontrar o meu eixo, que às vezes se perde nestes tempos de solidão. E tem me ajudado também a compreender porque sempre reluto em desistir das pessoas. Vou às últimas conseqüências, como se não soubesse a hora de parar. Na verdade, em se tratando de amor por exemplo, quando a vida me surpreende, me tira o tapete, me esquece, eu não consigo acreditar que ele evapora, ou até mesmo, que ele nunca existiu. As construções entre as pessoas não podem sair do nada, elas contam histórias. Não só as histórias destas pessoas juntas, mas as próprias histórias enquanto estão juntas. A vida em comum nos diz quem somos, nos desenha, nos identifica, nos remete a sonhos, a planos de um bom viver. O inacreditável para mim quando se trata de amor é que possa haver um amor volátil, portátil, e que não tenha brotado de uma sintonia extra-sensorial, para além da visibilidade. Daí que quando ele aparentemente deixa de existir de uma das partes, no meu caso, da outra parte, eu custo a mudar de estação. Eu viajo em outro tempo, eu sou mais devagar, eu sou slow mesmo. E gosto de ser assim. Já foi o tempo dos anos 70 e 80 em que tudo acabava num minuto e logo estávamos por aí abrindo o cobertor. Alguém pode dizer que pode ser da idade. Mesmo que seja, eu diria que é sabedoria. Mesmo que a capacidade de amar esteja em nós e carreguemos por onde formos, ela só se realiza se com o outro. Pessoas não são apenas depositárias de nosso amor, são copartícipes dele. Elas constituem nossa história, mesmo que sejam esquecidas pela consciência. Mas voltando aos novos finais, penso que passada a tempestade dos traumas conjuntos nas separações, todos nós precisaríamos de novos finais. Nem que para isto se comece a acreditar em novos começos. Acho que é por isso que reluto em desistir do outro. Se não posso recomeçar do início, que eu possa recomeçar para ter um final melhor.

domingo, 21 de março de 2010

Egocêntricos em Cartaz

Ontem, depois de uma discussão rápida, sem danos, com uma pessoa próxima, me convenci de que tenho um defeito incorrigível: a mania de dar muito cartaz às pessoas. Não saberia dizer de onde vem isto. Não deve ser um puro altrísmo, não. Talvez eu faça ao outro o que quero que façam comigo, sou carente desde a infância.
A verdade é que estou sempre dando muito cartaz às pessoas com quem convivo, isto é, sempre elogiando e ressaltando suas qualidades. É uma certa arrogância, é claro, achar que a pessoa precise de meus estímulos para se achar bacana, tri legal, bonita e inteligente. Talvez elas me cobrem isto de alguma forma que eu não perceba, como solicitando minha atenção o tempo todo.
Talvez eu não deva me preocupar com a imagem que a pessoa tem de si mesma e cuidar mais de mim. Preciso desenvolver um mecanismo mais egocêntrico, fortalecendo minha auto-confiança até que vire pedra. Um diamante de preferência. Vil.
Conscientemente minha intenção tem sido a de estimular mesmo as pessoas para que acreditem em seu potencial para aprender e serem felizes. Talvez seja uma mania de pedagoga neurótica, esquecida de seus limites neste mar de relacionamentos entrecruzados no mundo do sistema e da vida.
Como esquecer que cada ser humano está em permanente desenvolvimento e que minha profissão tem por missão lembrá-los disto? Isto se confunde à minha humanidade. Não tem jeito.
Há um grande risco em levarmos nossa postura profissional para a vida privada. Começo a me dar conta disto agora, depois de ter criado tantos monstros auto-confiantes. Ficaram tão achados que se voltaram contra mim, ficaram independentes e me colocaram na estante do esquecimento. E por incrível que pareça, mesmo sabendo destas crias, às vezes tenho recaídas e reincido no fortalecimento do cartaz destas mesmas pessoas, as revoltosas.
Como lidar com isto? Preciso fazer um treinamento para ser mais indiferente, para ser mais euzinha em primeiro lugar. E desejar que se danem mesmo aquelas que sugam minhas energias solicitando minha atenção por tempo demasiado.
É uma aprendizagem a perseguir: ser mais indiferente e egocêntrica, nem que para isto eu mesma tenha que fazer o meu cartaz. Claro, eu sou no mínimo maravilhosa!
Quá, de onde veio isto? Não, é brincadeira, eu não sou uma delas. Não, não. Eu não quero ser. Eu prefiro ser esta errante e deixar rolar meus defeitos e enganos. Deixe-se os egocêntricos em cartaz. Esperemos que a vida lhes ensine a melhor das aprendizagens: a compaixão. :o

Corroíras...pássaros gordinhos pequeninos

Abri a janela pra deixar entrar este ar fresquinho, enquanto o sol está coberto pelas nuvens. Não sei se vai chover. As caretas estão no ar. Acordei bem cedo e nada mudou. Ameaças e mais ameaças; meus tapetes estão na cerquinha que separa a parte da saída do carro do resto do jardim. Preciso ficar de olho. Também enchi as cordas de roupas. Espero que sequem antes da chuva.
Estava pensando nisto e minha amiguinha corroíra chegou perto da janela. Ah, como eu amo esta espécie. São tão mimosas! Elas me passam tanta ternura e delicadeza que fico querendo pegá-las e acariciá-las com cuidado. Quem me dera elas me confundissem com um arbusto. Por isso sonho em ter uma grande cabeleira bem enredada para que se aproximem de mim. Eu ficaria imóvel e descobriria seus petiscos preferidos para me perfumar deles. Tenho certeza que se me conhecessem bem não fugiriam. Saberiam que sou amigável e as tenho na mais completa consideração. Eu as protegeria dos perigos terrenos e em minha cabeleira elas poderiam construir uma grande comunidade de corroíras.
Seria a vivenda das corroíras. Uma vivenda ambulante. E por onde eu fosse lá estariam minhas companheiras de viagem, as corroíras. Poderiam alçar os vôos que quisessem e depois retornar à casa seguras porque eu as estaria aguardando com um banquete de seus petiscos prediletos.Para alguns isto pode parecer um delírio, mas talvez porque não tenham se apercebido o quanto são mimosas as corroíras. É só reparar bem nestes pássaros gordinhos pequeninos com piados enroladinhos como cochichos desinterassados. Não ligam para a própria beleza, são pássaros.

sábado, 20 de março de 2010

Tocar de graça :) !

Recebi um convite pra tocar em uma livraria e fiquei muito feliz. Andava meio borocochô e aquele convite veio em boa hora. Tratei de contatar um músico amigo fera nos assunto e fiquei mais feliz ainda quando ele topou. Teríamos um mês pra ensaiar em duo, voz e violão. Tenho certeza que seria um show legal, porque estamos começando a nos entrosar. Aprendo com ele, que é um profissional, e me empolgo a continuar me aperfeiçoando.
Caio em mim e me dou conta que já estou envolvida com a música direto há 6 anos. Estou na batalha de alguma forma. Nunca parei de tentar. Passei por momentos pessoais difíceis mas nem pensava em desistir da música. Ela faz parte de mim. Ela ajuda a me identificar.
Tenho tocado de graça e arcado com despesas e cachês dos músicos. Coisa de amadora, de principiante, na ilusão de divulgar o trabalho.
Tenho experimentado momentos de entusiasmo quando sou procurada para participar de alguma promoção. Fico pensando no dia em que seri paga pelo que faço. Parece-me que o pagamento em cash é o sinal verde do reconhecimento. Mas não só não sou paga como também pago. Pago para os músicos que me acompanham.
Este negócio está perdendo a graça. Tocar de graça é uma bola de neve. Parece que vira obrigação. Sem falar no argumento do anfitrião dizendo que é uma grande oportunidade para divulgarmos o nosso trabalho. Será?
Eu ficaria muito orgulhosa por me apresentar na tal livraria, onde gasto horrores em livros por sinal. Pois descobrindo que a mesma não pagaria a mim e ao músico que me acompanharia, gentilmente declinei do convite. Não me admira que os músicos locais não sejam reconhecidos, afinal, temos uma horda de gente tocando de graça por aí. Como se a gente não gastasse em estúdio, transporte, alimentação, manutenção de instrumentos e demais equipamentos, saúde vocal, etc.
É uma coisa pra se pensar.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Cronogramas

Não é difícil se atrapalhar com o cotidiano que inventamos. Vamos assumindo compromissos impostos por outros e por nós e quando menos esperamos estamos empilhados de trabalho. Esta semana entrei em parafuso. Mil coisas acontecendo e eu tentando organizá-las e não dava conta. O tempo a minha volta é de uma velocidade que não me agrada. Quero parar o tempo pra pensar o mínimo e não estou conseguindo. Parece que o que nos resta é fazer de conta que estamos em atividade. Pelos menos esta atividade endoidecida que nos atropela diariamente. Ficamos inventando tarefas uns para os outros sem a consciência do que isto significa. Estamos fadados ao caos semi-organizado. Tarefas infindas em descontinuidade. Parece que as coisas perdem o sentido quando não organizamos o caos que inventamos. Precisamos fazer alguns recortes e nos resignar a fazer menos, deixar barato a caristia do tempo. Improvisarmos uma atividade ao nosso alcance. Olhar de relance para o desnorteio e não se deixar contaminar. Eu agora vou me desgastar em fazer os cronogramas e me deixar levar pelo ditado destes. Nada além disto, nada aquém. Vou me dedicar a saber os cronogramas de cor e poder dormir duas vezes ao dia. Noite e dia ser guiada pelos cronogramas. Estes finamente elaborados para dar o quanto posso de mim. E posso pouco nestes dias de solidão. Posso muito pouco.

domingo, 14 de março de 2010

Memoriais no jardim

Há muito tempo atrás plantei 5 ciprestes em meu jardim. Foram plantados alinhados ao lado de um viveiro onde encerrava um casal de gansos. Foi um bom tempo. Meu filho era pequeno e criou as aves desde pequenas. Os gansos não existem mais e nem o viveiro. Mas os ciprestes cresceram robustos porque ficavam perto de toda aquela adubação dos gansos. Um dia daqueles de entardecer quieto, admirando aquele conjunto de árvores enfileiradas olhando para mim, decidi que elas representariam a minha família. Passariam a compor os memoriais a cada um de nós. Uma araucária foi plantada no mesmo alinhamento para completar os 6, incluindo meu filho. Seis memoriais ao todo.
Da minha família original, os ciprestes representam meu pai, minha mãe, eu e meus dois irmãos. Meu pai, minha mãe e meu irmão mais novo já se foram. Ainda estamos aqui meu irmão do meio, meu filho e eu.
Ao decidir que as árvores seriam memoriais passei a visitá-las com frequência, orando por eles e por todos nós para que encontrássemos o caminho da luz, em vida ou do outro lado, por assim dizer. Tenho orado para que nossa trilha seja de luz e serenidade. O importante é que possamos resolver nossas angústias para não carregá-las para onde quer que vamos, e reconhecer nossa evolução espiritual para melhorar o nosso retorno.
Isto tem se revelado um grande ponto de equilíbrio para mim. Sinto-me em paz com meus pais e desejosa de que meu irmão mais novo que já se foi esteja no mais bem aventurado caminho que se possa seguir, lá ou aqui novamente.
Pode parecer estranho, mas esta visitação que tenho feito quase que diariamente a estes memoriais, porque tenho aguado também as trepadeiras que plantei aos pés de cada cipreste, tem me ajudado a resolver coisas históricas em relação a minha família e comigo mesma. E tenho a pretensão também de tentar ajudá-los a resolver coisas que acho que restaram entre eles. Tudo isto enquanto rego as plantas. Pois entre um cipreste e outro tenho arbustos que representam a relação entre aqueles que estão próximos. Como a que tem entre meu pai e minha mãe, a que fica entre ela e eu, entre eu e meu irmão do meio e entre este e o mais novo; e ainda entre este e meu filho. Todos estão próximos e relacionados e formam um todo espiritual que se encontraram de alguma forma neste plano atual.
Neste verão o cuidado dispensado a este recanto do jardim foi fundamental para organizar minha vida e trazer a harmonia para meu lar. Tenho pensado em alargar o canteiro de cada cipreste e plantar mudas de alecrim. Alecrins nunca são demais em um jardim. Seu aroma traz muita serenidade.
Não vejo a hora que as trepadeiras comecem a tomar conta dos ciprestes, pois já começam a se enredar neles, e que se preparem para florecer na próxima primavera. Estarei cuidando durante todo o outono e inverno para que isto aconteça. Gosto de saber que tenho memoriais no jardim.

Domingo mingo mingo

Como tem acontecido nos últimos domingos, depois de fazer algumas coisas na casa, ponho o Ray Charles pra rodar. Fico aqui naquela madorma imaginando-me entre os maiores músicos negros e seus jazzes e blueses de viagens mis. Tudo o que faço e penso neste instante parece ter mais cor, mas sentido. Estou em sintonia com os deuses. Viajo então no teclado e registro meu êxtase pra não esquecer que sei ser feliz.
Ultimamente tenho feito isto diariamente. Mesmo sem escrever sobre isto a toda hora, tiro um momento do dia pra lembrar que sempre há momentos durante cada dia em que somos felizes. Basta ter consciência disto. São sensações pequenas de pleno estado de graça, e é de graça. Mas pra isto é preciso disciplina, ficar atenta aos momentos em que conseguimos dizer, bá esta minha vida é boa.
É domingo e estou aqui olhando o jardim da janela de meu escritório e Ray ali tão perto de mim, dando o melhor de si quantas vezes eu quiser. O sol, o vento, a paisagem, o jardim, tudo conspira pra este registro. Obrigada consciência, obrigada Ray, obrigada domingo, mingo, mingo, mingo.

terça-feira, 9 de março de 2010

Namoro

Não há coisa mais linda do namoro do que aquela paquera cheia de ímpetos e incertezas. Todo o namoro precisa de precedentes unilaterais, isto é, um de nós já está namorando mas o outro não sabe ou pelo menos não tem certeza de que vá rolar. Pra haver namoro é preciso ter havido antes muita fantasia, muita imaginação. É quando tentamos encaixar o outro nas expectativas que criamos pra ter um relacionamento saudável. Digo saudável no sentido de que seja bom para os dois.

Faz tempo que não faço isto: ficar disponível pra namorar. Já nem sei se sei fazer isto. Tenho muito medo das impropriedades da vida. Já não sou uma menina e aquele tempo em que me aventurava nas incertezas da vida, somente com a vontade de ser feliz, está bem longe. Longe para o passado. O futuro é estranho, não sei se quero a repetição dos círculos viciosos: aproximação, paixão, namoro, estabilidade, rotina, saturação, mágoas, fim. Amores descobertos e abandonos.

Mas não quero virar uma rabugenta. Devo optar por uma vida mais simplória, me fazendo de boba e cercada de amnésias. Às vezes acho que amnésia é nome de uma flor. Pois que me floreça o jardim de amnésias e me deixe embarcar de novo nestes círculos feitos para passar o tempo: os namoros; afetos feitos para testar nossa capacidade de amar.

sábado, 6 de março de 2010

Abotoaduras

Abotoaduras! Olha que coisa louca. Sempre gostei desta palavra. De repente me vem à cabeça este nome: abotoaduras. Não sei do que se trata. Influência da televisão? Vidas passadas? Alguma metáfora em minha vida para resolver? Não consigo entender. Mas me vem à lembrança camisas brancas muito bem passadas e alguém alinhado procurando as abotoaduras. Não às encontra em lugar algum e começa a ficar nervoso. Teria esquecido no banheiro, no carro, no quarto da amante, na cena do crime? Nossa, bota desnorteio nisto. De repente além de abotoaduras eu tenho uma camisa branca, um homem preocupado, um banheiro, um carro, um quarto de amante, uma cena do crime. Eu só queria pensar nas abotoaduras.
Ah! Acho que sei porque lembrei de abotoaduras. É por que elas exigem que utilizemos uma das mãos para fechá-las, já que a outra mão pertence ao pulso que está sendo abotoado. Isto tem a ver com a pulseira que comprei e que não tem lá uma feche confiável. Além de ser difícil de fechá-la preciso estar atenta à possibilidade dela se abrir assim do nada.
Pedi que o vendedor providenciasse um pega-ladrão para poder usá-la e não perdê-la.
É por isso então que lembrei de abotoaduras. Olha só, como funciona a nossa mente. Em momentos como este é que vejo que ,mesmo em tempos de solidão, tenho como companheira esta mente que faz de um tudo para ter a criação como companheira. É como lembrar dos tempos de brincadeiras de roda.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Sexta-feira

Querem acabar comigo. Sexta-feira, aula manhã e tarde. Ninguém merece. Pobres dos meus alunos. Tô liquidada. Só quero um sofá e palpebras pesadas. Ver TV dormindo. Acordar de madrugada e me arrastar até a cama. Acabo permitindo que a cachorra venha junto. Já não terei mais força pra ter autoridade sobre ela. Vamos dar pontapés uma na outra até que ela se ajeite no outro lado dos pés da cama. É a rotina.
Eu deveria estar me preparando pra balada (!), mas nem me imagino cogitando um lugar para ir. Estou aqui olhando o relógio e vendo que a sexta se esvai em seus segundos irreversíveis e me abandona à madrugada do esquecimento. Nem ouso ter lembranças de dias ou noites melhores. Não dá mais, estou cansada demais pra isto. Agradeço este desempedimento de qualquer compromisso neste momento em que o sofá me chama. Tá, já estou indo, vou concluir esta mensagem. Mais uma sexta-feira de silêncio e agradecimento por estar viva e sem dor, o que é mais importante. Nenhuma dor, nem de cima, nem de baixo, nem do corpo, nem da alma. Vivo. Bendito sofá, lá vou eu! Plugs, nugs.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Plugs, nugs

Às vezes as palavras não bastam pra dizer o que sinto. Como agora, plugs, nugs, chechel, miles. Dogs dormindes perto de mim. Plugs, nugs, nel, vides noles, boles, biles. Blá! Zulim, quineu, pinéu. Noles. Bludes dondes mar, mares, mar... ondes? Onda, só, onda, solis. Blues, blues. blues. Plugs, nugs! Ih.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Abraço

Depois de meses um almoço. Abraço estremecido. Mãos trêmulas. Rosto suado. Fala nervosa. Palavras atrapalhadas, empilhadas, ditas como saída do Olímpico em dia de grenal. Ímpeto de coisas as claras. Na mesa prato cheio comido depressa. E a bebida que não vem. Copo com dedos do garçon. Ninguém é perfeito. Mas o abraço foi em modo de A, rápido, pra se ver livre. Muita gente conhecida olhando. O medo na volta, como de gente procurada. Temos que parar de nos encontrar assim. Hi, hi, hi.

Amor amore

Fecho os olhos e a imagem do amado é nítida dentro de mim. Toda a saudade ficou reprimida por tanto tempo. Cruzei seus olhos e vi que poderia ainda estar lá dentro. O preto de seu olhar esconde bem o que sente. Esquiva-se do passado, teme o futuro, segura-se no presente com unhas e dentes pra não perder o rumo. O presente é sua proteção contra o imprevisível, o impensável, o que nega de pés juntos: voltar pra mim.
Eu sou o imprevisível que assombra sua retidão, sua rotina tão certa de eventos sólidos. Ah, quisera poder levar-te o caos no mais sublime tempero de vida. Vida é risco que almeja a paz e vive em guerra. A guerra em teus sentimentos é o prenúncio do retorno inexorável. A paz reside no reencontro com o amor infinito que um dia jogou-se em teu destino. Eu sou teu destino e tu, amado, é meu futuro, se o universo assim conspirar.
Que assim seja.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Que vida boa

O vento chega mansinho e acordo do estado letárgico debaixo do sol. Percebo que o calor intenso não era de um cobertor. Eu dormia no jardim depois das quinze horas. O tempo voou e já nem lembrava onde estava. Eu me esqueci de mim e entrei no mundo dos sonhos. O vento não queria me acordar, mas ele é assim estabanado. É sua natureza, o que se há de fazer? Não fiz caso, deixei que ele me percorresse toda e disputasse minhas sensações com o sol. Quente e fresco, quente e fresco. Fique ali, sem pensar nas horas, sem ligar pro tempo, sem saber o que faria a seguir. Parece fim de estação, o sol já não é tão vilão. Como é bom me perder assim e ficar só existindo, só pedindo mais da vida. Vida boa.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Estilo

Sem roupas no armário. Tralhas antigas que ficam grandes. Calçolas poídas. Meias furadas. Cheia de sandálias que machucam os pés. Comprar mais roupas. Mas que estilo? Precisa ter? Gosto do preto. Quando disse que iria comprar uma blusa preta, um conhecido me disse, quando eu já me afastava: 'cuidado com o preto!'. Fui pra casa pensando sobre o que ele quis dizer. Será que se trata de um trocadilho? Enfim, não importa. Não deu tempo pra saber por quê. Seja qual for o sentido, gosto de preto.
Preciso comprar roupas, mas a preguiça para ir ao centro da cidade é maior do que a vontade de ter as roupas. Quem me dera ter uma mascate que viesse oferecê-las na porta. Uma amiga disse que tem um que vende roupas bem legais. Ele vem em casa. Que beleza. Quem sabe? Eu estaria feita. Afinal, já tenho uma manicure ótima que até pinta meu cabelo. Até uma fruteira que entrega em casa eu já consegui. Sair de meu refúgio secreto pra fazer coisas que não gosto está cada vez mais difícil.
Quero estar elegante, sem castigos extremos, mas elegante, apresentável, mas daí a ter um estilo já é um grande problema. É por isso que vejo no preto uma boa solução. Ele absorve todas as cores e nos protege de energias negativas. Ai, e como as energias estão duvidosas por aí. Não há uma vez que não saia de casa e não encontre gente deprimida. Acho que é uma pandemia. Dá-lhe preto! Dá-lhe!

Viver de amor

Eu parecia tão certa que enfim aprendera a odiar. Via-me no abandono e cheia de raiva e rancor. Estava preparada para odiar, embora lutasse contra sentimentos de ódio exagerado. Afastava do pensamento maldizeres ao vento com ou sem tempestades. A confusão habitava em mim. Eu que toda a vida construira tantos castelos de paixões, histórias ensaiadas de felicidade e de ternura. Todos os castelos ruíam afinal e eu nem me abalava. Mas desta vez eu não estava preparada. Fui pega de surpresa.
Nos dias seguintes aos desmoronamentos eu abria 'novos editais' e ficava disponível a novos candidatos. Era a consciência de que o amor mora em nós e sempre que necessário plantamos mudas dele em terrenos férteis, para que floreça e nos faça feliz. É um misto de necessidade de compartilhar a vida e fuga da solidão. Ou sei lá.
Mas mesmo sendo capazes de criar estes cenários somos muito distraídos. Quando menos esperamos todos os castelos podem vir abaixo.
Talvez o grande barato de amar seja quando continuamos amando o ex-habitante de nossos castelos. Pois foi o que me aconteceu. Um belo dia, depois de exaurir minhas forças para odiar, havia perdido essa motivação. Meu coração recuperou memórias e só conseguia lembrar que só consegue amar. E daí em diante o amor pelo homem que partiu passou a ser uma boa companhia. Aquele amor do começo, dos momentos felizes e mesmo da crise. Foi um grande amor. E como diz Roberto, um grande amor não morrer assim.
Por mais que o mundo me dê motivos para odiar, o amor é minha base. O amor ainda mora em mim. Eu só sei viver de amor.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Pensamentos 2

Perder peso é bom. É como se o mundo saísse de nossos ombros. Comer pouco, coisas seletas, ração humana, racionalizada para manter a energia. Ingestão de emergia, subsistir. Coisas pequenas, limpas, digestivas, cozinha limpinha, geladeira iluminada. Outro ânimo, como se fosse autosustentável. Sobreviveria no deserto por alguns dias? Sei lá, só sei que sinto meu corpo diferente, como se governasse todo ele a um só comando. Vou virar faquir? Acho que não. Tenho muita gordura pra queimar antes de suspeitar disto. A percepção do tônus muscular é que é o grande barato, é como se eu inteira estivesse espalhada pela matéria que me constitui. Não é pra menos que isto pode virar um vício. Isto, a consciência corporal. Uma mente não é mente se não estiver integrada ao corpo que a sustenta com consciência. Meditação e exercício significativo levam a esta consciência. Digo significativo ao exercício realizado quando fazemos alguma coisa que não seja o puro movimento do corpo. É significativo quando limpo a casa, por exemplo, ou quando caminho na praia ou quando arrumo as coisas para por ordem às rotinas que organizo para dinamizar a vida.
É tudo muito bom, mas ainda falta o principal, aprender a respirar corretamente, isto é, lembrar de respirar corretamente. Eu estou descobrindo outra consciência, a mente vivida no meu corpo vivificado. Penso, logo me movimento.