segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Reuniões perfiladas

Mal retorno das férias e já me deparo com os agendamentos de mil reuniões, mil pautas, mil dúvidas, mil decisões a serem tomadas. Ufa!
Mal retorno das férias e já encontro um aluno cheio de idéias transbordantes querendo me ser contadas, e que saem atrapalhadas de seu nervosismo pra me impressionar.
Tento acalmá-lo com algumas ponderações mas isto o atiça mais ainda. Então resolvo ficar ouvindo um pouco com o propósito de não intervir para ver se ele vai se acalmando aos poucos.
Preciso parecer que o que diz é interessante para que ele resolva não me impressionar mais. Mas há a hipótese de que ele esteja mesmo aflito por resolver suas dúvidas.
Encontro uma colega para conversar e ouço que seus projetos e planos para este ano estão todos definidos e delimitados. Muitos editais e a sua disposição não é invejável. Não para mim que experimento esta fobia epistemológica.
Ainda não disse o que entendo por fobia epistemológica. Bem, existe o termo epistemofobia que significa medo do conhecimento, assim como agnosiofobia. Mas resolvi usar o termo como fobia epistemológica que é quase a mesma coisa, mas um pouco mais. Um mais que pretendo descobrir com estas reflexões.
Reuniões perfiladas. Devo comparecer. Devo marcá-las. Agendá-las. Isto me apavora porque não sei entrar muda e sair calada dos lugares. Tenho este defeito. Tenho cá pra mim desde sempre de que tenho que participar dos momentos e lugares por onde passo. Preciso aprender a calar nas reuniões, ouvir mais, mesmo que viaje a outros tempos e lugares enquanto isto.
Mesmo sabendo que não é o certo, mas é o que suporto diante do excesso ou da escassez de conhecimento.

Parangolés epistemofóbicos

Tenho participado de seminários e reuniões em que as falas me atordoam. Seguidamente perco o fio da meada, o fio do raciocínio. As falas licenciadas, isto é, daqueles que têm o direito de falar, fazem tantas voltas e revoltas que não consigo entender o que querem dizer. Isto me irrita e como sou professora - aquele tipo de profissional que adquiriu o direito da fala por profissão - intervenho e também me perco em meio a tantos raciocínios competitivos. Não aguento mais reuniões competitivas. Aliás, sempre tive problemas com competição. Na escola eu me entregava logo no jogo de caça e caçador porque não suportava a angústia de ser perseguida. Coisas de pessoas éticas ou covardes, sei lá.
Os tempos em que vivemos obriga os jovens a serem cada vez mais competitivos e eles fazem das tripas coração para mostrar seu montante de informação (conhecimento?) para mostrar sua competitividade. Isto me irrita, me cansa, me dasanima. Jogo a toalha, desisto, fico a fim de ir pra casa.
Já não tenho mais aquela vontade combativa, quando me valer da lógica adiantava. A lógica vigente é ilógica. E se completa com a força do grito, da intimidação com revirar de olhos e entreolhos dos comparsas opositores. Isto me irrita e quando vejo altero meu tom de voz e o coração palpita forte obrigando-me a calar.
Deparo-me com uma lógica do enfrentamento para a qual não vejo mais sentido. E principalmente porque a mediocridade vigente se camufla no desrespeito.
É a velhice? Os tempos pós-modernos? A barbárie?
Vejo como saída de emergência refletir mais sobre os parangolés que emergem na academia. Eles são fruto da de-cadência dos sujeitos falantes ou são um grito de socorro de epistemofóbicos?

Professora com epistemofobia?

Pois é verdade. Custei a me dar conta que minha irritação e dificuldade em prestar a atenção nas pessoas tinha este medo como motivo. Parece que cheguei a um esgotamento de informação e metodologias de pensamento. Preciso desesperadamente limpar a mente, o pensamento, a casa, o jardim. Passei por um processo recente de clareamento. Pintei toda a casa de branco, paredes e janelas. Até o telhado foi pintado de branco com a justificativa de que é uma ação ecológica. O telhado branco reduz a propagação do aquecimento solar no ambiente. Pude constatar que é mesmo. A casa está bem mais fresquinha neste verão.
O branco está em toda a parte. Quero tudo as claras. Virou uma neurose, reconheço. Mas está tudo limpinho. Quero limpar a mente. Cheguei a um ponto em que os livros na estante me incomodam e quero doá-los, vendê-los, enfim, me livrar deles. Mas não se restringe à leitura não. Diz respeito a todo o tipo de informação. Passo a interpretar toda informação como redundância, repetição, mesmice, círculo vicioso, chatice.
Não vejo nada de novo, de inédito, de espetacular. Até as regravações, reinterpretações são enfadonhas.
Não suporto mais ler texto que me enviam para avaliar. São falsos, colagens absurdas, plágios descarados, retalhos sem crédito.
Tenho me afastado cada vez mais da internet, dos sites de relacionamento, das buscas. A fragilidade das informações, a poluição visual, a rapidez das imagens, os apelos comerciais, tudo isto me irrita, me esgota, me decepciona. Quero voltar à ignorância total. Ando até desaprendendo grafias de palavras. Tenho me cansado da palavra. Preciso de um tempo para retomar minha palavra. Ela está infestada de informação medonha.
Talvez eu esteja cansada. Talvez precise me aposentar. Talvez o mundo esteja besta demais. Talvez eu precise iniciar uma campanha para chamar a atenção sobre isto. Talvez deva usar o feitiço contra o feiticeiro. Deixar aqui na rede este abismo humano que esta sociedade da informação está nos aprontando, questinando e ferindo nossa humanidade.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Estou voltando

Vamos retomar o diário, que já se chamou Tempos de Solidão, que já se chamou Monólogo das Paixões e que agora tem este nome de Diário Pessoal em Prosa quase Poética. É porque mudei também. Quero registrar coisas sem identificação permanente. É apenas um diário sem compromisso. Em prosa porque não tem nenhum estilo poético métrico, mas que é de alguém poético, isto é, que vê a poesia da vida. Que deixa escapar a alegria e a tristeza, os medos e as esperanças. Vai se levando.
Sei que vou perdendo os seguidores na medida em que mudo o nome. Quem sabe é para não se ter seguidores mesmo. O que dizemos na verdade vai para o espaço. O espaço ciber. O espaço nada.