domingo, 18 de abril de 2010

A luta do solitário

Parece que estes momentos de maior calmaria tem me deixado ver o quanto ele está lutando consigo mesmo. Abaixo de medicamentos para superar as crises de abstinência ele procura se manter ocupado. Preciso estar atenta às entregas exageradas que costumam acontecer quando resolve dormir demais. Tenho as minhas coisas pra fazer e é claro que não posso ser babá de ninguém, mas afinal ele é meu irmão e precisa de ajuda pra superar a vida errante que teria começado ainda quando menino e que não mereceu atenção especial dos adultos ignorantes de nossa época de infância. Hoje as coisas parecem mais fáceis. A informação educa até as crianças. Só o adulto que não quer ver não descobrirá o que está acontecendo de errado com seus filhos. Mas naquela época a vida era vivida meio aos borbotões, sem orientação nem para crianças e adolescentes e nem para pais desavisados. Ainda mais uma mulher sozinha criando seus três filhos. Ele se perdeu por caminhos difíceis e de todos os infelizes afetados por seus erros ele foi o maior atingido, com certeza. Sua vida se perdeu em vícios e prisões. Sua saúde é debilitada e sua mente, que um dia foi brilhante, já não tem a mesma lucidez. Seus erros lhe perseguem todos os dias e todas as noites. Quando posso estar em casa, geralmente trabalhando em minhas intelectualidades, o vejo quieto em seus afazeres domésticos e de marcenaria. Ele fica distante, triste, calado e só fala quando lhe dirijo a palavra. Tenho que respirar fundo e agradecer ao universo por poder acolhê-lo. Ele só tem a mim. E eu, pelo que tenho concluído, só tenho a ele. Ainda sou mais afortunada pelos amigos que penso ter. Mas ele, ele vive na mais completa solidão. Paga todos os dias pelos seus erros, não com o desabrigo, não com a fome. Ele paga com a extrema solidão.

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