quarta-feira, 31 de março de 2010

Cão de guarda meigo?

Quando aceitei que meu filho trouxeste uma cadela pit bull para casa fui logo condicionando sua vinda a um treinamento que a mantivesse meiga e obediente. Ela foi criada com todo o carinho e mesmo que às vezes nos assustasse e abocanhasse as pernas das visitas na maior parte do tempo estava sob controle. Ela passou a ser o símbolo de segurança na casa. O cartaz afixado no portão já assusta qualquer ladrão. Afinal, é uma pit bull. Acontece que agora ela já tem seu espaço adquirido na casa, já está um pouco mais velha e de vez em quando sai do sério. Fico querendo ver a meiguice nela mas ficamos nos relacionando com a luta de posse de controle pelas situações. Quando ela faz alguma coisa errada sabe que não vamos gostar e aí vem a sua encenação de meiguice deitando-se no chão de barriga pra cima esperando carinho e perdão. É uma manipuladora. Ela sabe que não vamos bater numa cadela indefesa.
Outro dia assisti a um programa sobre treinamento de cães em que a treinadora dizia que quando o cão se deita está na verdade querendo dizer para nos afastarmos, porque ele pode atacar. Poderá estar no seu limite. Olha só, quem diria! O cão está dizendo pra nos afastarmos e quando lhe fazemos carinho, ou não fazemos nada, estamos nos humilhando pedindo desculpas. Olha só que loucura! Cadê a meiguice então? Quando achamos que temos um cão de guarda meigo, na verdade temos um manipulador, que a qualquer momento pode se voltar contra nós. Isto me leva a crer que um cão de guarda meigo não existe.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Sol Ray Ban

A cor do sol de outono é diferente mesmo. Cheguei em casa e ele ainda não havia desaparecido. Fiquei no jardim um pouco com as cachorras. Preparando a fogueira da noite sabia que estava em boa companhia. Hoje é noite de lua cheia e meu lado insano se avizinhava. A cor do sol Ray Ban reluzia o verde claro dos pingos de ouro recortados. São arbustos podados em formas redondas. Gosto das formas redondas. Redondas como o sol, como a lua, como a terra. Fiquei ali por um tempo deixando que o sol desse a deixa pra lua. São meus guias pra me integrar à natureza mãe. Logo que a lua se mostrava toda fiz o foguinho em sua homenagem. Fiquei ali vendo as folhas se consumirem e aquecerem minh'alma. A lua é maravilhosa, mística, mágica, mas a lembrança do sol Ray Ban não me saía da cabeça. Talvez seja porque eu sempre esteja ligada no amanhã. O amanhã me espera, pra eu ver outro sol até que reluza o Ray Ban, deixando que a vida passe sem pressa de chegar a lugar algum.

Mulher de que tipo?

Nas últimas semanas tenho me deparado com entendimentos diversos sobre o tipo de mulher que os homens gostam. Parece que o tipo submisso está ganhando mercado. Aí me pergunto sobre o motivo disto estar acontecendo se afinal já houve tantos avanços nestas questões de gênero! Passamos pelos momentos radicais do feminismo e havíamos chegado à conclusão de que homens e mulheres deveriam se relacionar bem para progredirem juntos e independentes. Mas este fenômeno de um crescimento no número de mulheres objeto, não só sob o aspecto da mídia [as peladas em geral], mas do número crescente de mulheres que preferem ser do lar e fazer de seus homens os provedores da sustentabilidade da família me cheira muito mal. Fico me perguntando se não é o retorno do machismo com força ainda não conhecida. Um fenômeno a ser anexado à crise da modernidade. Desculpem-me mas sou culta. Não consigo evitar.
Parece que a eleição de mulheres aparentemente burras significa a não competição pela dominação do bando, das vontades individuais, do mercado de trabalho num sentido mais ampliado. Digo aparentemente burras porque há um grande número de mulheres confessas que admitem que a manipulação do homem rende mais do que tentar competir com ele. Fingir submissão faz parte da manipulação.
Mas será que isto vale mesmo a pena? Será que isto é realmente bom para ambos, manipuladora e manipulado ou vice-versa? Qual a razão disto tudo senão viver de aparências? Não seria uma forma de parecer que se encontrou o melhor jeito bom de viver? Como será que fica o nível de confiança mútua? Será que realmente isto faz as pessoas felizes ou o que as faz feliz é viver se enganando?
Sei lá o que isto significa. Já tentei me imaginar fingindo burrice para manter um relacionamento, mas não consigo. Minha inteligência vive me traindo. Acabo argumentando sobre as coisas e me enebriando com o avanço na minha compreensão do mundo e de mim mesma. É, eu nasci para ser inteligente e não negar meu tipo de mulher.
É claro que posso ser sedutora. Sei que sou. Muitos de meus amantes já me disseram que sou uma ninfeta. Claro, eles contribuiram para isto. A lembrança disto mantém minha libido em dia. Mas de jeito algum vou renunciar a minha capacidade de questionar a vida e de me deliciar com as leituras e interpretações destas. Jamais vou deixar de buscar uma sabedoria. E para os que confundem sabedoria com velhice, sinto muito, eu diria que são burros.

sábado, 27 de março de 2010

Novos finais

Dizia Chico Xavier que ninguém pode recomeçar do início, mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim. Esta frase, que tenho visto na chamada de um documentário a ser exibido em breve, tem me ajudado a reencontrar o meu eixo, que às vezes se perde nestes tempos de solidão. E tem me ajudado também a compreender porque sempre reluto em desistir das pessoas. Vou às últimas conseqüências, como se não soubesse a hora de parar. Na verdade, em se tratando de amor por exemplo, quando a vida me surpreende, me tira o tapete, me esquece, eu não consigo acreditar que ele evapora, ou até mesmo, que ele nunca existiu. As construções entre as pessoas não podem sair do nada, elas contam histórias. Não só as histórias destas pessoas juntas, mas as próprias histórias enquanto estão juntas. A vida em comum nos diz quem somos, nos desenha, nos identifica, nos remete a sonhos, a planos de um bom viver. O inacreditável para mim quando se trata de amor é que possa haver um amor volátil, portátil, e que não tenha brotado de uma sintonia extra-sensorial, para além da visibilidade. Daí que quando ele aparentemente deixa de existir de uma das partes, no meu caso, da outra parte, eu custo a mudar de estação. Eu viajo em outro tempo, eu sou mais devagar, eu sou slow mesmo. E gosto de ser assim. Já foi o tempo dos anos 70 e 80 em que tudo acabava num minuto e logo estávamos por aí abrindo o cobertor. Alguém pode dizer que pode ser da idade. Mesmo que seja, eu diria que é sabedoria. Mesmo que a capacidade de amar esteja em nós e carreguemos por onde formos, ela só se realiza se com o outro. Pessoas não são apenas depositárias de nosso amor, são copartícipes dele. Elas constituem nossa história, mesmo que sejam esquecidas pela consciência. Mas voltando aos novos finais, penso que passada a tempestade dos traumas conjuntos nas separações, todos nós precisaríamos de novos finais. Nem que para isto se comece a acreditar em novos começos. Acho que é por isso que reluto em desistir do outro. Se não posso recomeçar do início, que eu possa recomeçar para ter um final melhor.

domingo, 21 de março de 2010

Egocêntricos em Cartaz

Ontem, depois de uma discussão rápida, sem danos, com uma pessoa próxima, me convenci de que tenho um defeito incorrigível: a mania de dar muito cartaz às pessoas. Não saberia dizer de onde vem isto. Não deve ser um puro altrísmo, não. Talvez eu faça ao outro o que quero que façam comigo, sou carente desde a infância.
A verdade é que estou sempre dando muito cartaz às pessoas com quem convivo, isto é, sempre elogiando e ressaltando suas qualidades. É uma certa arrogância, é claro, achar que a pessoa precise de meus estímulos para se achar bacana, tri legal, bonita e inteligente. Talvez elas me cobrem isto de alguma forma que eu não perceba, como solicitando minha atenção o tempo todo.
Talvez eu não deva me preocupar com a imagem que a pessoa tem de si mesma e cuidar mais de mim. Preciso desenvolver um mecanismo mais egocêntrico, fortalecendo minha auto-confiança até que vire pedra. Um diamante de preferência. Vil.
Conscientemente minha intenção tem sido a de estimular mesmo as pessoas para que acreditem em seu potencial para aprender e serem felizes. Talvez seja uma mania de pedagoga neurótica, esquecida de seus limites neste mar de relacionamentos entrecruzados no mundo do sistema e da vida.
Como esquecer que cada ser humano está em permanente desenvolvimento e que minha profissão tem por missão lembrá-los disto? Isto se confunde à minha humanidade. Não tem jeito.
Há um grande risco em levarmos nossa postura profissional para a vida privada. Começo a me dar conta disto agora, depois de ter criado tantos monstros auto-confiantes. Ficaram tão achados que se voltaram contra mim, ficaram independentes e me colocaram na estante do esquecimento. E por incrível que pareça, mesmo sabendo destas crias, às vezes tenho recaídas e reincido no fortalecimento do cartaz destas mesmas pessoas, as revoltosas.
Como lidar com isto? Preciso fazer um treinamento para ser mais indiferente, para ser mais euzinha em primeiro lugar. E desejar que se danem mesmo aquelas que sugam minhas energias solicitando minha atenção por tempo demasiado.
É uma aprendizagem a perseguir: ser mais indiferente e egocêntrica, nem que para isto eu mesma tenha que fazer o meu cartaz. Claro, eu sou no mínimo maravilhosa!
Quá, de onde veio isto? Não, é brincadeira, eu não sou uma delas. Não, não. Eu não quero ser. Eu prefiro ser esta errante e deixar rolar meus defeitos e enganos. Deixe-se os egocêntricos em cartaz. Esperemos que a vida lhes ensine a melhor das aprendizagens: a compaixão. :o

Corroíras...pássaros gordinhos pequeninos

Abri a janela pra deixar entrar este ar fresquinho, enquanto o sol está coberto pelas nuvens. Não sei se vai chover. As caretas estão no ar. Acordei bem cedo e nada mudou. Ameaças e mais ameaças; meus tapetes estão na cerquinha que separa a parte da saída do carro do resto do jardim. Preciso ficar de olho. Também enchi as cordas de roupas. Espero que sequem antes da chuva.
Estava pensando nisto e minha amiguinha corroíra chegou perto da janela. Ah, como eu amo esta espécie. São tão mimosas! Elas me passam tanta ternura e delicadeza que fico querendo pegá-las e acariciá-las com cuidado. Quem me dera elas me confundissem com um arbusto. Por isso sonho em ter uma grande cabeleira bem enredada para que se aproximem de mim. Eu ficaria imóvel e descobriria seus petiscos preferidos para me perfumar deles. Tenho certeza que se me conhecessem bem não fugiriam. Saberiam que sou amigável e as tenho na mais completa consideração. Eu as protegeria dos perigos terrenos e em minha cabeleira elas poderiam construir uma grande comunidade de corroíras.
Seria a vivenda das corroíras. Uma vivenda ambulante. E por onde eu fosse lá estariam minhas companheiras de viagem, as corroíras. Poderiam alçar os vôos que quisessem e depois retornar à casa seguras porque eu as estaria aguardando com um banquete de seus petiscos prediletos.Para alguns isto pode parecer um delírio, mas talvez porque não tenham se apercebido o quanto são mimosas as corroíras. É só reparar bem nestes pássaros gordinhos pequeninos com piados enroladinhos como cochichos desinterassados. Não ligam para a própria beleza, são pássaros.

sábado, 20 de março de 2010

Tocar de graça :) !

Recebi um convite pra tocar em uma livraria e fiquei muito feliz. Andava meio borocochô e aquele convite veio em boa hora. Tratei de contatar um músico amigo fera nos assunto e fiquei mais feliz ainda quando ele topou. Teríamos um mês pra ensaiar em duo, voz e violão. Tenho certeza que seria um show legal, porque estamos começando a nos entrosar. Aprendo com ele, que é um profissional, e me empolgo a continuar me aperfeiçoando.
Caio em mim e me dou conta que já estou envolvida com a música direto há 6 anos. Estou na batalha de alguma forma. Nunca parei de tentar. Passei por momentos pessoais difíceis mas nem pensava em desistir da música. Ela faz parte de mim. Ela ajuda a me identificar.
Tenho tocado de graça e arcado com despesas e cachês dos músicos. Coisa de amadora, de principiante, na ilusão de divulgar o trabalho.
Tenho experimentado momentos de entusiasmo quando sou procurada para participar de alguma promoção. Fico pensando no dia em que seri paga pelo que faço. Parece-me que o pagamento em cash é o sinal verde do reconhecimento. Mas não só não sou paga como também pago. Pago para os músicos que me acompanham.
Este negócio está perdendo a graça. Tocar de graça é uma bola de neve. Parece que vira obrigação. Sem falar no argumento do anfitrião dizendo que é uma grande oportunidade para divulgarmos o nosso trabalho. Será?
Eu ficaria muito orgulhosa por me apresentar na tal livraria, onde gasto horrores em livros por sinal. Pois descobrindo que a mesma não pagaria a mim e ao músico que me acompanharia, gentilmente declinei do convite. Não me admira que os músicos locais não sejam reconhecidos, afinal, temos uma horda de gente tocando de graça por aí. Como se a gente não gastasse em estúdio, transporte, alimentação, manutenção de instrumentos e demais equipamentos, saúde vocal, etc.
É uma coisa pra se pensar.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Cronogramas

Não é difícil se atrapalhar com o cotidiano que inventamos. Vamos assumindo compromissos impostos por outros e por nós e quando menos esperamos estamos empilhados de trabalho. Esta semana entrei em parafuso. Mil coisas acontecendo e eu tentando organizá-las e não dava conta. O tempo a minha volta é de uma velocidade que não me agrada. Quero parar o tempo pra pensar o mínimo e não estou conseguindo. Parece que o que nos resta é fazer de conta que estamos em atividade. Pelos menos esta atividade endoidecida que nos atropela diariamente. Ficamos inventando tarefas uns para os outros sem a consciência do que isto significa. Estamos fadados ao caos semi-organizado. Tarefas infindas em descontinuidade. Parece que as coisas perdem o sentido quando não organizamos o caos que inventamos. Precisamos fazer alguns recortes e nos resignar a fazer menos, deixar barato a caristia do tempo. Improvisarmos uma atividade ao nosso alcance. Olhar de relance para o desnorteio e não se deixar contaminar. Eu agora vou me desgastar em fazer os cronogramas e me deixar levar pelo ditado destes. Nada além disto, nada aquém. Vou me dedicar a saber os cronogramas de cor e poder dormir duas vezes ao dia. Noite e dia ser guiada pelos cronogramas. Estes finamente elaborados para dar o quanto posso de mim. E posso pouco nestes dias de solidão. Posso muito pouco.

domingo, 14 de março de 2010

Memoriais no jardim

Há muito tempo atrás plantei 5 ciprestes em meu jardim. Foram plantados alinhados ao lado de um viveiro onde encerrava um casal de gansos. Foi um bom tempo. Meu filho era pequeno e criou as aves desde pequenas. Os gansos não existem mais e nem o viveiro. Mas os ciprestes cresceram robustos porque ficavam perto de toda aquela adubação dos gansos. Um dia daqueles de entardecer quieto, admirando aquele conjunto de árvores enfileiradas olhando para mim, decidi que elas representariam a minha família. Passariam a compor os memoriais a cada um de nós. Uma araucária foi plantada no mesmo alinhamento para completar os 6, incluindo meu filho. Seis memoriais ao todo.
Da minha família original, os ciprestes representam meu pai, minha mãe, eu e meus dois irmãos. Meu pai, minha mãe e meu irmão mais novo já se foram. Ainda estamos aqui meu irmão do meio, meu filho e eu.
Ao decidir que as árvores seriam memoriais passei a visitá-las com frequência, orando por eles e por todos nós para que encontrássemos o caminho da luz, em vida ou do outro lado, por assim dizer. Tenho orado para que nossa trilha seja de luz e serenidade. O importante é que possamos resolver nossas angústias para não carregá-las para onde quer que vamos, e reconhecer nossa evolução espiritual para melhorar o nosso retorno.
Isto tem se revelado um grande ponto de equilíbrio para mim. Sinto-me em paz com meus pais e desejosa de que meu irmão mais novo que já se foi esteja no mais bem aventurado caminho que se possa seguir, lá ou aqui novamente.
Pode parecer estranho, mas esta visitação que tenho feito quase que diariamente a estes memoriais, porque tenho aguado também as trepadeiras que plantei aos pés de cada cipreste, tem me ajudado a resolver coisas históricas em relação a minha família e comigo mesma. E tenho a pretensão também de tentar ajudá-los a resolver coisas que acho que restaram entre eles. Tudo isto enquanto rego as plantas. Pois entre um cipreste e outro tenho arbustos que representam a relação entre aqueles que estão próximos. Como a que tem entre meu pai e minha mãe, a que fica entre ela e eu, entre eu e meu irmão do meio e entre este e o mais novo; e ainda entre este e meu filho. Todos estão próximos e relacionados e formam um todo espiritual que se encontraram de alguma forma neste plano atual.
Neste verão o cuidado dispensado a este recanto do jardim foi fundamental para organizar minha vida e trazer a harmonia para meu lar. Tenho pensado em alargar o canteiro de cada cipreste e plantar mudas de alecrim. Alecrins nunca são demais em um jardim. Seu aroma traz muita serenidade.
Não vejo a hora que as trepadeiras comecem a tomar conta dos ciprestes, pois já começam a se enredar neles, e que se preparem para florecer na próxima primavera. Estarei cuidando durante todo o outono e inverno para que isto aconteça. Gosto de saber que tenho memoriais no jardim.

Domingo mingo mingo

Como tem acontecido nos últimos domingos, depois de fazer algumas coisas na casa, ponho o Ray Charles pra rodar. Fico aqui naquela madorma imaginando-me entre os maiores músicos negros e seus jazzes e blueses de viagens mis. Tudo o que faço e penso neste instante parece ter mais cor, mas sentido. Estou em sintonia com os deuses. Viajo então no teclado e registro meu êxtase pra não esquecer que sei ser feliz.
Ultimamente tenho feito isto diariamente. Mesmo sem escrever sobre isto a toda hora, tiro um momento do dia pra lembrar que sempre há momentos durante cada dia em que somos felizes. Basta ter consciência disto. São sensações pequenas de pleno estado de graça, e é de graça. Mas pra isto é preciso disciplina, ficar atenta aos momentos em que conseguimos dizer, bá esta minha vida é boa.
É domingo e estou aqui olhando o jardim da janela de meu escritório e Ray ali tão perto de mim, dando o melhor de si quantas vezes eu quiser. O sol, o vento, a paisagem, o jardim, tudo conspira pra este registro. Obrigada consciência, obrigada Ray, obrigada domingo, mingo, mingo, mingo.

terça-feira, 9 de março de 2010

Namoro

Não há coisa mais linda do namoro do que aquela paquera cheia de ímpetos e incertezas. Todo o namoro precisa de precedentes unilaterais, isto é, um de nós já está namorando mas o outro não sabe ou pelo menos não tem certeza de que vá rolar. Pra haver namoro é preciso ter havido antes muita fantasia, muita imaginação. É quando tentamos encaixar o outro nas expectativas que criamos pra ter um relacionamento saudável. Digo saudável no sentido de que seja bom para os dois.

Faz tempo que não faço isto: ficar disponível pra namorar. Já nem sei se sei fazer isto. Tenho muito medo das impropriedades da vida. Já não sou uma menina e aquele tempo em que me aventurava nas incertezas da vida, somente com a vontade de ser feliz, está bem longe. Longe para o passado. O futuro é estranho, não sei se quero a repetição dos círculos viciosos: aproximação, paixão, namoro, estabilidade, rotina, saturação, mágoas, fim. Amores descobertos e abandonos.

Mas não quero virar uma rabugenta. Devo optar por uma vida mais simplória, me fazendo de boba e cercada de amnésias. Às vezes acho que amnésia é nome de uma flor. Pois que me floreça o jardim de amnésias e me deixe embarcar de novo nestes círculos feitos para passar o tempo: os namoros; afetos feitos para testar nossa capacidade de amar.

sábado, 6 de março de 2010

Abotoaduras

Abotoaduras! Olha que coisa louca. Sempre gostei desta palavra. De repente me vem à cabeça este nome: abotoaduras. Não sei do que se trata. Influência da televisão? Vidas passadas? Alguma metáfora em minha vida para resolver? Não consigo entender. Mas me vem à lembrança camisas brancas muito bem passadas e alguém alinhado procurando as abotoaduras. Não às encontra em lugar algum e começa a ficar nervoso. Teria esquecido no banheiro, no carro, no quarto da amante, na cena do crime? Nossa, bota desnorteio nisto. De repente além de abotoaduras eu tenho uma camisa branca, um homem preocupado, um banheiro, um carro, um quarto de amante, uma cena do crime. Eu só queria pensar nas abotoaduras.
Ah! Acho que sei porque lembrei de abotoaduras. É por que elas exigem que utilizemos uma das mãos para fechá-las, já que a outra mão pertence ao pulso que está sendo abotoado. Isto tem a ver com a pulseira que comprei e que não tem lá uma feche confiável. Além de ser difícil de fechá-la preciso estar atenta à possibilidade dela se abrir assim do nada.
Pedi que o vendedor providenciasse um pega-ladrão para poder usá-la e não perdê-la.
É por isso então que lembrei de abotoaduras. Olha só, como funciona a nossa mente. Em momentos como este é que vejo que ,mesmo em tempos de solidão, tenho como companheira esta mente que faz de um tudo para ter a criação como companheira. É como lembrar dos tempos de brincadeiras de roda.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Sexta-feira

Querem acabar comigo. Sexta-feira, aula manhã e tarde. Ninguém merece. Pobres dos meus alunos. Tô liquidada. Só quero um sofá e palpebras pesadas. Ver TV dormindo. Acordar de madrugada e me arrastar até a cama. Acabo permitindo que a cachorra venha junto. Já não terei mais força pra ter autoridade sobre ela. Vamos dar pontapés uma na outra até que ela se ajeite no outro lado dos pés da cama. É a rotina.
Eu deveria estar me preparando pra balada (!), mas nem me imagino cogitando um lugar para ir. Estou aqui olhando o relógio e vendo que a sexta se esvai em seus segundos irreversíveis e me abandona à madrugada do esquecimento. Nem ouso ter lembranças de dias ou noites melhores. Não dá mais, estou cansada demais pra isto. Agradeço este desempedimento de qualquer compromisso neste momento em que o sofá me chama. Tá, já estou indo, vou concluir esta mensagem. Mais uma sexta-feira de silêncio e agradecimento por estar viva e sem dor, o que é mais importante. Nenhuma dor, nem de cima, nem de baixo, nem do corpo, nem da alma. Vivo. Bendito sofá, lá vou eu! Plugs, nugs.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Plugs, nugs

Às vezes as palavras não bastam pra dizer o que sinto. Como agora, plugs, nugs, chechel, miles. Dogs dormindes perto de mim. Plugs, nugs, nel, vides noles, boles, biles. Blá! Zulim, quineu, pinéu. Noles. Bludes dondes mar, mares, mar... ondes? Onda, só, onda, solis. Blues, blues. blues. Plugs, nugs! Ih.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Abraço

Depois de meses um almoço. Abraço estremecido. Mãos trêmulas. Rosto suado. Fala nervosa. Palavras atrapalhadas, empilhadas, ditas como saída do Olímpico em dia de grenal. Ímpeto de coisas as claras. Na mesa prato cheio comido depressa. E a bebida que não vem. Copo com dedos do garçon. Ninguém é perfeito. Mas o abraço foi em modo de A, rápido, pra se ver livre. Muita gente conhecida olhando. O medo na volta, como de gente procurada. Temos que parar de nos encontrar assim. Hi, hi, hi.

Amor amore

Fecho os olhos e a imagem do amado é nítida dentro de mim. Toda a saudade ficou reprimida por tanto tempo. Cruzei seus olhos e vi que poderia ainda estar lá dentro. O preto de seu olhar esconde bem o que sente. Esquiva-se do passado, teme o futuro, segura-se no presente com unhas e dentes pra não perder o rumo. O presente é sua proteção contra o imprevisível, o impensável, o que nega de pés juntos: voltar pra mim.
Eu sou o imprevisível que assombra sua retidão, sua rotina tão certa de eventos sólidos. Ah, quisera poder levar-te o caos no mais sublime tempero de vida. Vida é risco que almeja a paz e vive em guerra. A guerra em teus sentimentos é o prenúncio do retorno inexorável. A paz reside no reencontro com o amor infinito que um dia jogou-se em teu destino. Eu sou teu destino e tu, amado, é meu futuro, se o universo assim conspirar.
Que assim seja.