sexta-feira, 9 de julho de 2010

Pegar o trem

Foi mais fácil começar a lidar com o cotidiano quando percebi que tentava pegar um trem em alta velocidade. As coisas por fazer, as idéias brotando sem aviso, as pessoas correndo como o coelho de Alice, a papelada inventada todos os dias para cooptações e controle, esta cultura difícil de se apreender, os valores invertidos, as vontades de fazer bonito que andam a solta, coisas tantas, ações recorrentes de incensatez. Nossa! Que lista! Eu não conseguia entender a minha lerdeza e quanto mais tentava acompanhar o trem em alta velocidade, mais aumentava a minha solidão. Via-me dormir e acordar em estações abandonadas, olhando para trilhos esfriados minutos depois da passagem dos vagões. Duvidava do que via, de minha capacidade, de minha energia e até de minha inteligência. Sobravam-me somente os sentimentos de alienígena. Aquele espaço e tempo já não me pertenciam. Quem sabe, deveria tomar uma atitude e jogar a toalha, sair de cena, cuidar de meu caracol, ficar em casa. Humm, tão convidativo!
Mas, assim, desavisadamente, de uma hora para a outra, sem que eu pudesse anotar no diário o instante exato dos acontecimentos, as situações começaram a mudar e pude ver nos sorrisos das pessoas, com quem passei a conversar por acidente, que meu lugar ainda é ali, naquele espaço confuso de tempos desencontrados e de jovens procurando ajuda, querendo saber afinal o que e porque esse tal trem da vidaestação ultrapassa nossas forças, nos intimida e nos desafia a lhe acompanhar. É o trem do nosso tempo. Supertempo. Superespaço. No entanto, de que me valeria tanta vida se não fosse para tomar sua carona e de um jeito manhoso e sorrateiro sentar perto dos freios e da janela pra dar a mão aos que ficam parados nas estações.

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