sábado, 27 de março de 2010

Novos finais

Dizia Chico Xavier que ninguém pode recomeçar do início, mas qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim. Esta frase, que tenho visto na chamada de um documentário a ser exibido em breve, tem me ajudado a reencontrar o meu eixo, que às vezes se perde nestes tempos de solidão. E tem me ajudado também a compreender porque sempre reluto em desistir das pessoas. Vou às últimas conseqüências, como se não soubesse a hora de parar. Na verdade, em se tratando de amor por exemplo, quando a vida me surpreende, me tira o tapete, me esquece, eu não consigo acreditar que ele evapora, ou até mesmo, que ele nunca existiu. As construções entre as pessoas não podem sair do nada, elas contam histórias. Não só as histórias destas pessoas juntas, mas as próprias histórias enquanto estão juntas. A vida em comum nos diz quem somos, nos desenha, nos identifica, nos remete a sonhos, a planos de um bom viver. O inacreditável para mim quando se trata de amor é que possa haver um amor volátil, portátil, e que não tenha brotado de uma sintonia extra-sensorial, para além da visibilidade. Daí que quando ele aparentemente deixa de existir de uma das partes, no meu caso, da outra parte, eu custo a mudar de estação. Eu viajo em outro tempo, eu sou mais devagar, eu sou slow mesmo. E gosto de ser assim. Já foi o tempo dos anos 70 e 80 em que tudo acabava num minuto e logo estávamos por aí abrindo o cobertor. Alguém pode dizer que pode ser da idade. Mesmo que seja, eu diria que é sabedoria. Mesmo que a capacidade de amar esteja em nós e carreguemos por onde formos, ela só se realiza se com o outro. Pessoas não são apenas depositárias de nosso amor, são copartícipes dele. Elas constituem nossa história, mesmo que sejam esquecidas pela consciência. Mas voltando aos novos finais, penso que passada a tempestade dos traumas conjuntos nas separações, todos nós precisaríamos de novos finais. Nem que para isto se comece a acreditar em novos começos. Acho que é por isso que reluto em desistir do outro. Se não posso recomeçar do início, que eu possa recomeçar para ter um final melhor.

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