domingo, 24 de junho de 2012

Primeira paixonite

Sem nenhum esforço veio-me à lembrança a primeira vez que percebi o que é estar apaixonada. Dormia um sono bem leve, quando de repente um pranto involuntário me invadia, acordando minha mãe que dormia no mesmo quarto. Ao me perguntar porque chorava respondi que achava estar apaixonada pelo guri que falou comigo naquela noite. Minha mãe sorriu e disse que entendia o que eu estava sentindo e que isto é assim mesmo. E eu dizia, mas dói, uma dor aqui no peito. Claro, disse ela, é por isso que a gente chama de dor do coração quando estamos apaixonadas. Ela então perguntou por quem eu estava sentindo aquilo. Contei que o conhecera naquele final de tarde quando olhava a vitrine da loja de variedades da esquina de casa. Ele veio do nada, nunca o vira antes, e me disse que eu era linda e quando meus amiguinhos se aproximaram ele foi embora e nunca mais o vi. Até hoje fico pensando quem seria aquele menino. Parecia ser mais velho mas não muito. Ele era tão lindo e meigo. Talvez tenha sido o modelo de homem que fiquei procurando a vida toda. Alguém que visse beleza em mim, que me adulasse e me fizesse sua linda. No entando, ideal é ideal e já não se faz mais meninos como antigamente. Sei lá. Mas foi bom demais lembrar de minha primeira paixonite. Com o tempo esquecemos que a dor no peito causada pela paixão não é voluntária. Não adianta tentar dirigir o gostar, ele acontece quando quer e não há nada que se possa fazer. Ninguém manda no coração.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

O trampolim

Ele se balançava no trampolim natural fixado no alto das pedras. Ela dizia pra ele, com a voz quase sumida pela arruaça das ondas: não se atire daí assim, a maré pode recuar e vais te estatelar nas pedras! Ele não lhe ouvia, estava eufórico e impressionado pois a conhecera naquele dia e sabia que a amaria para sempre. Sem conter o pânico, por temer que o louco apaixonado se precipitasse de tanto amor, a amada gritou pra ter cuidado e foi logo prometendo que o amaria pra sempre fosse qual fosse o destino dos dois. Ah, a paz reinou na paisagem e ambos correram um para o outro porque o abraço esperava por eles no meio do caminho. Selavam ali uma história que qualquer pessoa gostaria de passar adiante. Ele estava disposto a viver aquele amor sem se importar com as conseqüências, ela já estava encantada com o cavaleiro solitário que exibia uma armadura de aço, forjado por muitas histórias loucas. Olharam-se nas almas e pularam então daquele trampolim. Apostaram na espera da maré por sobre as pedras como um grande balanço de espumas brancas com mil peixinhos pra acariciar seus corpos nus. 

A quem quiser, que passe adiante ou conte outra.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O tempo da delicadeza

Como eu poderia saber que estes dias chegariam, o tempo da delicadeza? Foram tantos momentos abruptos na vida, tantos dias de extrema insatisfação, tormentos de paixões mis vividas ao extremo. Tantos foram os caminhos experiementados pra chegar ao lugar da paz de espírito, da sensatez. Tanta espera preguiçosa no sofá mais confortável da sala, que agora pouco importa. 

A memória em luz mais parece um arquivo indiferente, dotado de noções pra desenhar minha história. Está tudo tão claro como nunca. Ela pode ser revista com mais lucidez e calma poética como jamais havia imaginado. A angústia virou uma palavra sutil para descrever a ansiedade inquieta, brotada das sensações de impotência. Toda a angústia experimentada flui na vaga música ouvida pelos dons de ouvido, tão raros nos dias de hoje, e se transmutará em perfume do pó das estrelas que aprecio nas noites quietas de meu jardim.

Enfim, deixarão espaço para memórias tênues de conversas noturnas ao telefone com alguém recém conhecido, de história trágica contada em livro, mas que preserva em reservas escancaradas uma ternura de criança de quem queremos cuidar e mimar. É o tempo da delicadeza que se aproxima de mim, que remete a minha natureza cuidadora do mundo e me dá mais uma chance de mostrar que aprendi a lidar com a vida. A vida, que esteve sempre por perto enquanto eu me refugiava em mim mesma, nunca desistiu de mim. 

Ela sempre soube que eu ressurgiria das cinzas para viver o tempo mais precioso da existência, o tempo de contar nossa história de outra forma, com outras palavras, com outros sentidos, em que todos os atores são heróis de si mesmos. Um tempo de lembranças guardadas de que os laços que nos uniram são fitas mimosas das roupinhas de bebê que todos usamos algum dia. No dia em que fomos todos iguais, quando deixamos fugir a delicadeza para reencontrá-la mais tarde, como agora encontro a minha, no meu tempo da delicadeza.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Garoa fria

Um dia como este, assim frio e úmido, em que posso ficar em casa e fazer meu próprio horário, meu próprio tempo, me dá a ilusão de que enfim sou livre. Posso fazer o que eu quiser e posso também fazer nada, sem culpa, sem remorso, sem ter que dar explicações de minha inutilidade. O clima lá fora não é convidativo a sair e fazer coisas, olho minha agenda mental e vejo que qualquer compromisso que pudesse ter pode ser adiado. Ah, como adoro adiar fazer o que precisa ser feito. Hoje posso fazer isto e dar o nome de liberdade de escolha. Há quem diga que o jubilamento do trabalho pode deixar alguém deprimido. Eu digo que minha depressão vai embora a cada dia. Poder ser eu mesma, meio anti-social, seletiva, e dada a me interessar por coisas que a maioria não se interessa me dá um infinito prazer de viver. O que posso dizer se amo o sol, mas passei a amar também a garoa fria se posso ficar em casa debaixo de cobertores lendo um bom livro? Obrigada vida por ter me oportunizado experimentar isto.

domingo, 17 de junho de 2012

Vamos retomar a escrita?

Li um livro (Fé na Estrada, de Nolsen Rodrigues) semana passada que me deu novo entusiasmo para a literatura confessional, ou pelo  menos pelo que eu esteja entendendo que seja isto. Prometo-me que vou pesquisar mais a respeito. Parece que tenho um trabalho a fazer para minha família e eu. Preciso nos ver através de minhas percepções e acertar as coisas. Linkei aqui também de forma mais clara as minhas composições hospedadas no site garagem.mp3 pra me lembrar que tenho jeito pra coisa e que também posso continuar buscando parcerias pra fazer isto. Quem sabe voltar a aprender a tocar violão ou o piano, quem pode saber? Estão os dois instrumentos largados em minha sala fria. Bah, preciso providenciar a lareira nova pra esta sala gente, que frio faz aqui depois que demoli a antiga. Bem, queria deixar resgistrado aqui estes últimos progressos.