domingo, 1 de agosto de 2010

Pegar o avião?!

Dizem que pra conhecer o mundo de cima e melhor é preciso pegar um avião, viajar, morar fora daqui. Isto me apavora, porque odeio andar de avião. Sinto o mesmo por navios e outros meios que me tirem do chão. Um lance de escada já é alto demais pra mim. Defeito de fábrica, sou desta forma. Mas neste mundo tão globalizado, informatizado, rico em comunicações, em que os povos se misturam e as culturas se aproximam, ainda há quem acredite que é do outro lado que a vida tem sentido. Estão tradicionalmente olhando para o outro lado do horizonte acreditando firme e inquestionavelmente que tudo lá é melhor do que aqui. Isto vem de muito tempo. O que o outro faz é sempre melhor. A verdade está lá fora. Vá lá que seja. Serviços, bens, saúde, educação. Precisamos falar inglês, francês, alemão. Deve estar certo quem diz que importamos de lá somente a forma de vida e esquecemos o conteúdo. Eu diria também que tal conteúdo foi sonegado e que a tal forma foi imposta pelos invasores da terrinha. Mas que terrinha é esta aqui que a tudo acolhe, que tudo ama sem pedir nada em troca? No afã da admiração do outro esqueceu de negociar o conteúdo, não leu o contrato. Há quem tenha descoberto o conteúdo agora e queira ficar lá do outro lado do horizonte. Mas levará de herança a forma. Não a trans-forma, mas tão-somente a de-forma, porque no encontro dos olhos serão descobertos e relevados. Mas aí me pergunto, por que iria pegar um avião pra ver o mundo do alto? Não vejo sentido. Aquele conteúdo não me pertence. Quero achar nesta forma que conheço o conteúdo daqui para recriá-lo em minha natureza. Nossa! Não me façam pegar o avião. Não me façam acreditar que sou menos, porque além de não me interessar por aquele conteúdo, sei que ele não é meu. O meu? Bem, tenho trabalhado nisto a minha vida toda e para isto não preciso pegar um avião. Seria mesmo maravilhoso ver de perto os castelos e outros bens materiais e espirituais que foram erguidos com a exploração de seres humanos? Seria mesmo bom ver as marcas das guerras de perto?
Por isso, de todas as iscas que não quero morder pra que façam me sentir menos, esta é uma delas: eu não quero pegar o avião. Eu não quero saber de lá. Eu quero ver o que está perto daqui. Meu tempo está sintonizado no módulo lento. Slow. Aqui. Me sinto bem.

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