segunda-feira, 26 de abril de 2010

Espinhos da coragem

Os espinhos de minha coragem são ponteagudos e a caminho do céu. Eles brotam todos os dias e cada vez mais se acomodam em minha carapaça, surpreendente torpor de espera do inevitável. Eles, os meus espinhos, reluzem a qualquer brilho e refletem a lua nas noites frias em que espio a vida pela janela. Os sonhos estão guardados no sono que não visito faz tempo. Minha vigília é sentinela romana, presentindo meteoros buscadores de vida alienígena. Quando penso que vou à loucura, me emociono com os filhotes sem pelagem dos marsupiais mostrados na TV. Minhas janelas internáuticas e televisivas me avisam que o mundo é grande demais para mim. Tento então afiar meus espinhos e sair às ruas como dona quixote indiferente aos caos da vizinhança. Mas sou acordada viva do pânico adquirido com o turbilhões de emoções de pura vida, de pura carne e consciência excessiva. Talvez o grande verso seja encontrado na singela ignorância de minhas tentativas de virar uma mulher loira. Minha coragem precisa deste adereço, desta derradeira experiência de aloiramento capilar e das idéias de minha rigidez morena. O loiro como adereço fútil. Penso que a combinação de meus espinhos de coragem adornados por uma longa melena loira me levará finalmente para o mundo dos meteoros e dos super-heróis. E a partir daí, misturados, talvez encontre a paz e a aceitação da insanidade terrestre.

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