segunda-feira, 19 de julho de 2010

Vai além do Japão

Quando era adolescente pude usufruir dos tempos e espaços finitos. Infinito se resumia a um sinal matemático e ao espaço cideral. Este era dos astronautas. Estar longe não ía além do Japão. Um furo profundo no chão nos levaria ao Japão. Santa ingenuidade, tão valiosa, vivíamos aqueles mortais tão lerdos e confiantes dos níveis de conhecimentos e sentimentos que pudessem ser acumulados. Entre ciência e romantismo todos sabiam o que não sabiam. Faláva-se em sombras.
Um dia, já mais velha, achei que poderia acompanhar o desenvolvimento inspirado nas ficções. Comprei o meu primeiro computador em 1995, mas já lidava com estas máquinas no trabalho. Fui bancária por doze anos e meio. Sempre preciso dizer este meio, ou mentir pra menos dizendo 12 ou pra mais dizendo 13. Enfim, iniciava minha vida de cidadã independente alfabetizada naquela mídia da informação. A partir dali, quanto mais aprendia, mais descobria que não sabia e mais percebia que não poderia acompanhar aquela evolução. Em pouco tempo restringi meu campo de aprendizagem e me iludi que isto também bastaria. E por aí somaram-se os termos obsoletos, as suas técnicas e equipamentos transformados em tataravôs do dia pra noite. Engraçado é que algumas pessoas achavam que deixariam seu computador de herança para os filhos, assim como se deixa uma casa, um carro.
Ufa! Levei alguns anos para perceber que assim como não se pode conter os avanços da ciência e da tecnologia também não se pode acompanhá-los. Vejo-me envolvida em afazeres poluentes da visão, da atenção, da compreensão e da reflexão. Parece que tenho me tornado uma passageira que pede para o ônibus parar, porque quer descer na próxima parada. Talvez deva descer, talvez não. Talvez deva fazer de conta que a tudo vejo e a tudo compreendo para continuar pertencendo a sei lá o quê. A cada dia vejo mais pessoas imersas nas redes de afazeres e saberes intangíveis, redes confusas imperceptíveis a olho reflexivo, somente a nú. As ações se imbricam, complicam. E temo que não sejam complexas, confusas sim. As imagens são muitas, se cruzam, se sobrepõem, se impõem ao cérebro ainda obtuso. Seria a interface do alargamento cerebral humano? Estaríamos impostos aos processos de apelos à expansão das estruturas cognitivas motivados pelo avanço da inteligência artificial?
O problema é que não se pode acompanhar a complexidade artificial, porque entre as questões cognitivas também se deve considerar as éticas e as estéticas. E estas são as que nos fazem decidir se queremos ir ao Japão.

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