terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Pensões, vínculo maldito!

Tem chegado ao meu conhecimento que esse negócio de pensões alimentícias tem se tornado a coisa mais indigesta do fim de um casamento. Ainda bem que nunca precisei disto. É mais um motivo para reconhecer que minha vida é boa, já que o desastre de meu último casamento e separação não me deixaram esta pendência. Mas penso nas mulheres e filhos de alguns safados que andam por aí. O pior não é depender dos proventos que o indíviduo tem o dever moral e legal de dispor, mas de ter que entrar na peleia por causa disto, não bastasse o trauma da separação a ser vivenciada pelos filhos. Acredito que a única saída dessa situação é cortar o vínculo imediatamente, declinar da ajuda, mandar às favas, riscar do mapa, encontrar outro jeito de sobreviver.
Não deixar de acionar juridicamente, claro, mas deixar que um defensor público, outra pessoa que seja lide com a situação. Não fazer contato de nenhuma forma a não ser através de um advogado. Para mim, nestes casos, a maior vingança é ser feliz, tenho ouvido por aí. Em um de meus casamentos eu poderia ter exigido pensão para meu filho, mas declinei só pra não ter vínculo.
Muitas vezes um homem consegue acabar com a autoestima de uma mulher de tal maneira que ela pensa que não poderá fazer mais nada sem ele. Não poderá produzir, se sustentar, se colocar no mercado, ser amada, ser bonita, resgatar a sua jovialidade, a sua ternura, a sua esperança. Mas eu diria a essa mulher que ela não pode desistir de si mesma. Que a melhor maneira é cortar o vínculo. Um homem que não reconhece que deve sustentar seus filhos, seja de que casamento for, é um vampiro na vida de uma mulher. Ele continuará a sugar as energias dela mesmo fora do casamento: através da decepção de seus filhos. Essa mulher deve ir à luta, nem que seja por raiva. Há muitas formas de ganhar dinheiro. Quando olhamos para nós mesmas descobrimos que temos muitas habilidades e às vezes nem sempre um curso superior será a única saída. O mercado hoje tem diferentes demandas e a busca de qualidade de bens e serviços. Terá vez aquela pessoa que buscar o seu diferencial. Este diferencial lhe ajudará a sobreviver e a se reencontrar com a sonhadora que um dia, com certeza, já foi.
De lambuja eu diria que depois de ter sido casada quatro vezes, ainda bem que os casamentos terminam!

sábado, 23 de janeiro de 2010

Inspiração, volta!

Ai, estou preocupada demais com a ausência da inspiração. Quando penso que ela voltou, me empolgo e logo constato um punhado de mediocridade. Escrevo coisas apressadas, sem nexo. É como se estivesse bêbada quando as escrevesse. Sei que é a carência de inspiração. Começo a ficar com medo que tenha chegado ao esgotamento da lucidez. Sempre fui tão lúcida, tão convicta de meus pensamentos, mesmo quando precisava revê-los mais tarde. Mas espera um pouco. Em tempo, percebo que na verdade o que me falta é amor. Acho que não sei viver sem amar. Não basta a empolgação com projetos, que não envolvam o amor. Acho que já estou pronta pra voltar a amar. É isso! Claro! Como é que não pensei nisso antes? Eu sou do amor e não há mágoa ou desilusão que me impessam de ser do amor. Aliás, como disse Livia Garcia-Roza [escritora e psicanalista], hoje pela manhã em entrevista, 'a libido nunca envelhece'.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Mudas delicadas de pitangueira

Descobri uma coisa bem legal em meu jardim. A pitangueira estava rodeada de mudas. Poucas semanas antes havia reparado que as pitangas haviam sumido. Imaginei que os pássaros inquilinos teriam comido. Pois se comeram deixaram ali mesmo os carocinhos. As mudas se esguiam vigorosas quase como um adorno ao redor da pitangueira. Lembrei que quando menina eu costumava enfeitar a casa com galhos de uma pitangueira que tínhamos no quintal de nossa casa. Além do perfume suas folhas são vivas e brilhantes. Admirada com a beleza daquele presente vi ali a oportunidade de reservá-las para as crianças da escola onde desenvolvo um projeto com estagiários do Curso de Física. Nossa proposta é de identificar problemas socioambientais e propor soluções simples com conhecimentos da Física. As pitangueiras podem ser as mudas de árvores que vamos sugerir que plantem para a redução da emissão de gás carbônico para a atmosfera. Fiquei feliz em constatar que as mudas que lhes ofertaremos terão uma história delicada. Ainda sobraram mudas. Estas reservarei para os visitantes de meu jardim.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Medo de perder a ternura

Às vezes me pego pensando em mágoas recentes. Ainda bem que já aprendi a lidar com as mais antigas. Mas as recentes me invadem com tanta força que tenho medo de perder a ternura. Desde menina eu sempre lutei para não perder a ternura que plantei quando ainda nem sabia o que vim fazer aqui. Hoje que começo a compreender a minha missão: viver os limites de meu potencial mais humano, sei que a maior provação é não perder aquela ternura apesar de todas as decepções. A cada dia exercito minha capacidade de amar o mundo e minha meta é de amá-lo tanto ao ponto de esquecer de mim e das agruras que me abatem quando estou desatenta. A descoberta de que a ternura é minha motivação vital recria-me a cada segundo quando inspiro e expiro a crença em dias melhores. Tudo o que mais quero é recuperar minha crença no ser humano e voltar a acreditar no amor mútuo. Preciso me agarrar a isto para não perder a ternura. Ah, como tenho medo de perder a ternura. E é esta consciência do medo que me resgata de qualquer tristeza, de qualquer desesperança. Ah minha ternura, mantenha-se firme e renove-se para ficar mais forte e impenetrável.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Lugar de haitiano é no Haití!

O que posso fazer pelos haitianos é orar por eles. Quero que a vida se ajeite e que cada um tenha esperança para resistir às intempéries que a natureza lhes impõem, a humana e a não-humana. É claro que eu gostaria de trazer algumas crianças, órfãos, para minha casa e mimá-las com minha capacidade de amar. Seus olhinhos de socorro me comovem, mas o lugar delas é em seu país, em seu chão. Tudo já lhes foi negado, que não seja negada a sua territorialidade. Se vamos ajudar esse povo que seja lá em sua terra. E se vamos realmente ajudar que seja a partir da recuperação ou criação da autoestima e autoconfiança para gestar a própria vida. Eu oro muito pelos haitianos. Oro pela preservação de sua nacionalidade, pela criação de novos modos de vida e pela infinita capacidade de amarem-se mutuamente para resistir ao que só um haitiano pode saber, que é viver sem governo. Que o lugar dos haitinos seja preservado para os haitianos. Lugar de haitiano é no Haití!

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Um corpo está sendo procurado

'Um corpo está sendo procurado'. Foi isto mesmo que disse a reporter ao anunciar que uma pessoa estava sendo procurada depois de um deslizamento em Angra dos Reis, recentemente. Não posso esconder a minha idade quando chego à conclusão de que isto só pode ser coisa de jovem, sem experiência em humanidade. A pessoa desaparecida em questão deve ter um nome, uma identidade, filiação, sexo, idade e coisas do tipo. Certamente que habita um corpo, mas este não a identifica de pronto. Este tipo de procedimento noticioso se repete diariamente. As diversas maneiras com que a mídia se refere às pessoas envolvidas em incidentes, acidentes e tragédias me levam a pensar que não somos mais sujeitos de nada, nem de nossas tragédias. Muito menos delas, ao perdermos o domínio sobre nossos corpos e mentes viramos um objeto de especulação midiática. Sei que isto não é um espanto exclusivo meu. Já li outros comentários na mesma linha desta indignação. O mundo está em pleno reboliço catastrófico e as pessoas morrem como moscas. Tornam-se apenas números e coisas [corpos] de um caos para o qual não estávamos verdadeiramente preparados apesar das profecias milenares. Corpos estendidos no chão se acumulam dia após dia. Falar de corpos talvez seja uma forma de suportar o medo e nos prepararmos para dias mais tenebrosos. Ficamos a pensar quando estaremos entre os corpos procurados e a rezar que sejamos encontrados com ou sem vida.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Duendes e sapos no jardim

Nem quero saber se é brega ou superstição, mas quero muitos sapos e duendes no jardim. Já tenho um sapo de pernas compridas entre as pernas de uma árvore. O tronco dela se abre em dois e no meio visualizei o lugar para sentar o sapo sentado que comprei num daqueles dias que se vai à floricultura em busca de alguma coisa que não se acha e nos deparamos com um sapo perdido querendo ser levado. E ainda paguei caro pelo novo amiguinho. Tentei conseguir um desconto porque ele estava com um arranhão, mas ele parecia entender do que falávamos e temi que se magoasse. Fui logo dizendo está bem, vou levá-lo. Mas o seu antigo dono pareceu sentir o mesmo que eu e na hora de acertarmos a conta deu o tal desconto. Saimos de lá, o sapo e eu, prontos para formar uma boa parceria de superstição ou quem sabe de uma fantasia que nos sustente a alegria e a ternura que preciso para viver. Ainda não encontrei os duendes que procurava, quando encontrei o sapo, mas continuo à procura de um bom duende que queira habitar meu jardim. Por certo que há um lugar especial aguardando por ele. Mas também não quero qualquer duende. Não me venham com anões da branca de neve. Quero um duende legítimo com aqueles gorros pontudos e de olhar penetrante. Se não for assim não combinam com minhas fantasias. Até que encontre um bom duende vou cuidando do sapo em meu jardim.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Ego super ego

Doida de mim querer me esquecer. Como pude esquecer de me dar toda esta atenção que me dou agora? Não sei aonde estava com a cabeça. Em tempo me descubro tão importante pra mim mesma. Vivo tão bem com os meus próprios grilos. Nem sei por onde começar as várias tarefas que me dizem respeito todos os dias. Nem chego a concluí-las em tempo antes de dormir. Aliás, antes de dormir a hora que eu bem entendo. Hoje é domingo e já fiz tanta coisa que poderia dormir o resto do dia. Dormir sem hora pra acordar. De certo que não desprezaria uma visita chegando de surpresa, embora prefira que avisem, mas o dia está repleto das coisas de mim. Acho que mereço este meu tempo. Fico horas a pensar em nada e a decidir se faço nada agora ou depois de algumas horas de indecisão. Faço várias coisas ao mesmo tempo. Leio, escrevo, penduro roupas que a máquina lavou, vejo o ph da psicina, ligo a cascata e fico ali admirando o feito, a água indo e vindo, apreciando a farsa da natureza que inventei pra ter o meu recanto. Cá estou a beira de meu jardim secreto. Não me arrependo deste investimento mais de tempo do que de grana. É tudo muito simples, sem exageros materiais, mas é um refinamento de meu esforço de joana de barro. Depois de esgotar-me de ego, talvez encontre algumas crianças por aí que queiram viver aqui. Eu só abdicaria desta egocentricidade pelas crianças. Somente elas poderiam me roubar atenção.