quarta-feira, 28 de julho de 2010

A solidão de Laerte

Hoje recebi a notícia de que Laerte morreu. Uma morte horrível. Laerte tirou a própria vida por enforcamento. Quando vieram me contar não resisti ao pranto. Bateu um desespero e dó que vinha da alma e da sintonia que eu tinha com ele. Ele foi meu jardineiro por um tempo. Eu cuidava dele. Tinha afeição inexplicável por ele. Saiu daqui faz alguns anos porque metera-se em confusão. Seu irmão havia sido morto e ele se via na obrigação de vingá-lo. Foi-se pela vida por sua conta e risco. Tinha uma vida errante, mas nunca me incomoudou. Essa é a verdade. Andou por aqui pedindo uns trocados e trabalho faz alguns meses. Ganhou o trocado mas trabalho já havia quem o fizesse. Sim, ele sempre pedia trabalho. Dizem que para alimentar o vício que o pobre tinha. Talvez a única coisa que possuía como sua, o vício. Pensei nisto no instante em que fiquei sabendo. Que vida triste teve o Laerte! Desde menino largado no mundo, sem amparo, tentando resistir à pobreza e ao abandono da vida, lutando contra o racismo e o preconceito. Em sua demência e solidão completou enfim o abandono, abandonando-se à própria morte. Eu não me conformo que um ser tenha que viver assim este tipo de vida tão infame. Pobre Laerte. Minha ligação com ele era tão forte que nos últimos dias vinha pensando nele. Esta semana o vi vagando pela estrada com seu cachorro e pensei que precisava orar por ele. Talvez a gente tenha ligações de outras vidas. Nisto passei a acreditar com mais afinco a partir de hoje. Tive pressentimentos de que alguma coisa aconteceria com alguém. Cheguei a comentar em casa. Daqueles pressentimentos que costumo ter, quando uma tristeza me invade e me deixa prostrada. Onde andará aquele serzinho tão pequeno agora. Um jovem franzino de pouco mais de um metro de altura, de pele negra, dentes tão brancos que reluziam quando sorria rara e timidamente. Ninguém cuidou do jardim tão bem quanto ele. Era um ótimo jardineiro. Isto ninguém nunca pôde negar. Ele tinha sonhos como todo mundo. Cheguei a visitar seu barraco uma vez. Comprei as telhas pra ele. Lá havia iniciado um jardim com mudas aqui de casa. Exibia-o orgulhoso. Tentei fazer parte de sua vida, porque tenho destas coisas. Querer apoiar a quem passa em meu caminho. Ou serei eu que passo por eles? Em minha dor por saber do destino de Laerte, choro, choro muito, mas me endireito e acho o momento de desejar que ele encontre o caminho da redenção, do amparo, da paz. Esteja em paz meu querido amigo Laerte. Você sempre estará vivo em minhas lembranças de afetos.

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