quarta-feira, 7 de abril de 2010

Duas tartarugas

Sonhei com duas tartarugas. Tão lindas! Estavam à sombra de uma árvore em meu jardim. Quando as avistei tentei mangueirá-las com suavidade. Na hora eu regava as plantas. Era final de tarde. Sei porque não havia muito sol e o dia tinha sido bonito. Eu trazia este gosto de dia bonito. Ao sentir a água sobre seus corpinhos verdes elas começaram a andar esparramando-se nos pedriscos de uma parte da estradinha que vai da casa ao atelier. Não queria assustá-las por isso comecei a falar com elas dizendo, naquele tom idiotizado que falamos com os cães, do tipo, calma que não vou machucá-las, só quero umidecer seus casquinhos! Óh! Venham aqui, para onde vão? No sonho, elas se distanciavam de mim, mas tratei de acompanhá-las. Queria saber aonde iriam. De repente me vi no centro da cidade acompanhando as duas tartarugas. Notei que se aproximavam da praça Tamandaré. Lá tem um lago artificial desde muito antes de eu ser criança. Já acordada lembrei que há muitos anos [eu tinha lá os meus 12 anos] eu e outras crianças da quadra resolvemos salvar os peixes e tartarugas daquele lago, porque a prefeitura estava fazendo uma limpeza. Eles esvaziaram o lago para limpar o fundo. Nós costumávamos frequentar a praça de passagem e quando vimos aquilo ficamos assustados e muito, mas muito revoltados. Cada um correu a suas casas e pegamos os baldes que podíamos carregar para salvar os peixes que pudéssemos carregar. Eram latas de tinta vazias, baldes, tudo que fosse recipiente servia para salvar os peixes da Tamandaré. Até os pequenos, os irmãozinhos, se envolveram. Os operários da prefeitura olhavam pra gente e diziam que não adiantava fazer aquilo, que os peixes não resistiriam, que nossas mães não deixariam que ficássemos com eles. Nós respondíamos que era somente enquanto limpassem o lago. Que nada! Nossas mães resistiram o quanto podiam. Ocupamos os tanques e baldes da casa por algum tempo, mas pouco a pouco os peixes foram morrendo e não sobrou um que pudesse voltar para o lago. Aquele serviço de limpeza parecia não acabar mais.
E lá estava eu sonhando com a mesma praça, acompanhando as duas tartarugas. Mas tartaruga representa longevidade, por isso não me assustei com o sonho. Elas corriam para um tanque e quando se atiraram naquela água fresca e cheia de algas, pensei que ficariam seguras. Eu já podia acordar. Sonho meio doido. Mas parece que o que vale dos sonhos não são os sonhos, é o que eles nos levam a lembrar. Gostei de lembrar que desde menina meu impulso sempre foi o de atender, de cuidar do outro. Mas por que será que eram duas tartarugas?

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