sexta-feira, 6 de julho de 2012
Redenção
quarta-feira, 4 de julho de 2012
Feito pelo não feito
domingo, 24 de junho de 2012
Primeira paixonite
quinta-feira, 21 de junho de 2012
O trampolim
quarta-feira, 20 de junho de 2012
O tempo da delicadeza
segunda-feira, 18 de junho de 2012
Garoa fria
domingo, 17 de junho de 2012
Vamos retomar a escrita?
terça-feira, 7 de fevereiro de 2012
Eu preciso de mais tempo pra pensar
Como disse, tento levar uma vida normal. Faço minhas obrigações de trabalhadora e cidadã, dona de casa e consumidora. Preciso ir às compras por mais que prolongue esta iniciativa. Odeio fazer compras. E não é por não gostar de gastar dinheiro não. É porque não tenho sido bem atendida no comércio e na prestação de serviços. É uma miscelânea de imperícia e estupidez que me dá vontade de fundar uma comunidade no interior dos cafundós e passar a não depender de nada que seja industrializado, informatizado, comunicado, em rede, em fashion, esquimbau.
As coisas são apresentadas para mim com uma má vontade quando solicito, a qualidade é péssima, os preços são exorbitantes porque não há nenhum critério lógico de tabela, a pressa no atendimento, ah a pressa no atendimento é o pior de tudo. Não disse ainda que das seqüelas neurológicas que carrego a mais incômoda é a síndrome do pânico. É uma loucura. Isto tem me afastado das pessoas e começo a me convencer que a reclusão é quase uma necessidade de sobrevivência.
Todo este depoimento foi motivado pelo episódio de hoje. Saí de casa depois de uma semana e fui ao supermercado. Correu tudo quase bem, mesmo tendo que lidar com uma atendente que pesava as frutas reclamando que estava na sua hora do café, sem me olhar e conversando com a colega do lado. Isto é muito comum hoje no comércio local. Você pode chegar toda alegrinha para o atendimento, mas a pessoa nem te olha.
Bem, vencido o momento do super inventei de ir comprar peixe numa peixaria próxima dali, numa rua paralela. Era perto, eu poderia agüentar mais um pouco antes de voltar pra casa. Estava tudo indo bem. Eu compraria o mesmo peixe que havia comprado semanas antes para fazer o almoço para minha tia e prima. Ficara bem gostoso e eu estava precisando me alimentar melhor. Já fazia dias que tentava terminar o grão de bico feito no sábado. Entrei na peixaria e fui logo pedindo o mesmo peixe. Não tinha. Isto já me desestruturou. Então a dona, uma mulher baixa e magra, com olheiras profundas veio me atender. Eu perguntara então pelo camarão. Só tinha o da lagoa. Este eu não como. Rejeitei e já atônita porque não sei comprar peixe e não saberia decidir rápido, já que as pessoas começavam a chegar ao recinto e parecendo certas do que queriam levar. Eu pedi então que ela sugerisse outro peixe. Já meio contrariada, ela mostrou-me outro, que achei muito escuro e deduzi que seria muito forte para mim. Perguntei pelo côngruo rosa e ela me mostrou um filé muito fininho. Eu fiquei indecisa, levei o dedo indicador na vertical tapando a boca pensando se levava ou não. A mulher guardou o peixe e me disse sem demora que eu poderia ir numa peixaria mais adiante que lá talvez eu encontrasse o que queria. Fiquei em choque. Custei a cair na real. Percebi que ela estava irritada com minha indecisão e só consegui dizer com calma e meio sem graça: a senhora está me correndo, tudo bem. Eu vou embora. Nesta última frase vi minha voz sumindo e me dirigindo para a porta de saída, pensei em correr pra casa, mas resolvi tentar na outra peixaria. Cheguei lá meio amortecida, meio em estado de choque, minha voz nem saía da boca. Perguntei ao homem bonachão ali sentado que peixe ele teria para fazer ensopado. Ele logo me sugeriu 3, mas com uma serenidade tamanha que se não tivesse um peixe que me agradasse eu teria levado o homem pra casa. Ou pelo menos teria tentado.
Depois de atendida e enquanto pagava pelo peixe que levei, contei a ele com as mesmas palavras que narro aqui e ele, na sua serenidade, me disse: azar dela, aqui a senhora será sempre bem-vinda, pode levar o tempo que precisar pra decidir. Eu ainda tremia. Fiquei surpresa com minha fragilidade diante da estupidez da mulher. Com certeza nunca mais voltarei naquela peixaria. Não vou me expor a estes lugares onde a pressa comanda as relações humanas.
Não creio que eu tenha que me sentir culpada por estar indecisa na escolha de alguma coisa. Não vou levar pra casa uma coisa que vá detestar porque o mundo resolveu me forçar a engolir goela abaixo sem pensar nos meus interesses, sem procurar saber o que é melhor pra mim. Não vou ser regulada pelo tempo do mundo. Preciso de mais tempo pra pensar.
Talvez eu tenha que me fortalecer pra revidar a este tipo de ignorância com palavras mais duras e não deixar que pessoas sem noção como estas me ameacem. Mas isto não é o mais importante porque consegui chegar a casa bem, elaborei a situação e preparei o peixe na fineza. Mas antes, pensei bem como iria prepará-lo. Deixei ali no tempero por uma hora, enquanto tomava um chimarrão no jardim. Passado o tempo fiz um molho no capricho e só depois coloquei o peixe. Hummm....ficou uma delícia. E como ando valorizando o meu tempo. Logo depois do almoço, fiz um chá de limão bem gostoso e saboreei com o olhar perdido no nada. Nada como perder-se no tempo e esquecer a estupidez do mundo.
domingo, 15 de janeiro de 2012
Meu irmão é um baita marceneiro
Há poucos dias atrás bateu aqui em casa um cara todo esbaforido procurando por meu irmão para pedir que construísse um barraco de madeira para ele num terreno na rua de trás. Estava meio desnorteado, aflito mesmo, dizendo que estava procurando por Marcus fazia um tempão. Com a calma que lhe é peculiar, Marcus disse ao cara, tá, tudo bem, vamos lá ver o terreno.
Marcus voltou contando que o terreno, já separado com uma cerca de arame, fora comprado entre dois amigos e repartido igualmente. O tal proprietário aflito e inquieto ficava andando de lá pra cá e querendo saber se Marcus poderia começar logo e quanto iria custar tudo. O homem relatou que não agüentava mais viver onde morava no momento e por isso precisava arranjar um teto com urgência. Queria botar sua família dentro de um barraco para depois construir a casa. Meu irmão ficou consternado com a situação do sujeito e não cobrou o preço justo, cobrou menos.
O terreno fica próximo aqui de casa. Em poucos minutos se chega lá. Marcus foi a pé todos os dias desta última semana lá construir a casa do cara. Hoje de manhã resolvi espiar a quantas andava a obra e fiquei abismada com a capacidade de meu irmão em construir uma moradia para alguém, com material barato, fazendo um verdadeiro milagre com a madeira. Ele é perfeccionista e não poupou esforços para dar uma boa aparência ao lugar. Isto me faz pensar como é difícil encontrarmos pessoas que mesmo com materiais simples consegue edificar a beleza e a utilidade. Aquele proprietário aflito do início da semana estava com o sorriso nas orelhas. Parecia uma criança admirando o seu brinquedo novo e achando que estava ajudando enquanto tropeçava nas madeiras. Resolvi sair logo dali, porque sei que meu irmão não gosta de gente andando na volta se não vai pegar no pesado. Hi, hi, hi.
Problemas de políticas públicas de moradia a parte, também me emocionou saber que mais uma família vai ter o seu próprio canto e que meu irmão participou disto com o seu saber fazer e a sua ética solidária. Este ofício maravilhoso que é a marcenaria, transformar a natureza em objeto, um teto, um aconchego para alguém deve ter quase a idade da humanidade. Isto é muito legal. Meu irmão é um baita marceneiro e usa seu ofício para fazer coisas boas e belas. Ver aqueles dois homens ali, contratante e contratado, articulando sonhos e saberes para aquela construção, alegrou demais o meu domingo, a minha existência.
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
O banho das cachorras
Ela tentava escapar, mas não resistia ao chamego que envolve tomar um banho. Não é só a água e shampu que fazem um bom banho. Tem todo aquele chamego, aquele convencimento, as carícias e as palavras macias para garantir o processo até o final. Nestas horas é bom ser cachorra, se é que alguém me entende.
Concluída a primeira, parti pra segunda cachorra. Pra quê? Quem diz que a primeira deixava. Tive que fazer um banho meia boca pra garantir a lavada completa, porque nenhuma das duas parava quieta. Eu havia esquecido que precisava tirar uma cachorra de cena pra poder iniciar com a segunda. Parece até vida real gente.
Enfim, conclui os banhos e as duas correram pelo jardim bem afrescalhadas e cúmplices do fuzuê. Eu fiquei fedendo a cachorra molhada e sem ninguém pra me dar banho. É a vida. Quem me dera ser cachorra.
Hoje a tarde vou dar o banho no Dino, o único cachorro da casa.
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Cuidar exige sabedoria
Talvez eu não devesse cuidar tão bem dos outros. Talvez eu devesse ser mais austera, sem tantos desdobramentos de atenção, sem tantos detalhes e requintes de ofertas de cuidados. Eu viro quase uma camareira das pessoas quando me disponho a cuidar de alguém. Isto não está certo. Isto não é normal eu diria, se pensasse bem antes de me deixar levar pela compulsão de atender às necessidades de alguém. Eu até invento necessidades que as pessoas nem haviam pensado para vê-las bem. É quase como uma instalação estética cuidar de alguém para mim. Fico antevendo o que a pessoa vai precisar e preparo o ambiente para ela, me desdobro em esquemas criativos para vê-la bem instalada, aconchegada, querida e feliz.
Mas aí a pessoa se deita nas cordas e gostando de todo aquele atendimento me escraviza. Eu suporto por um tempo, mas depois vou sentindo um mal estar, uma angustia e fico prestes a estourar. Até adoeço. Meu corpo começa a me avisar que é hora de parar com o projeto e me vejo em maus lençóis para me desfazer daquela instalação que eu mesma construí para abrigar o monstro que forjei.
Eu não sei a medida do cuidado. Deveria existir um Manual do Cuidado para pessoas cuidadoras como eu. Eu nasci para cuidar dos outros. Sei disto, mas precisaria aprender a fazer isto sem chegar ao ponto de esgotamento a que me exponho sendo tão amadora.
Não tenho sabedoria para cuidar dos outros. Será que podemos aprender a fazer isto sem chegar ao esgotamento? Como pressentir a chegada de sugadores de energia? E como nos livrarmos deles quando se instalam como se fosse de direito? Como fazer isto com o menor trauma possível para ambos os lados?