terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Cuidar exige sabedoria

Cuidar dos outros é bom. Mas qual é a medida do cuidado? Como ajudar o outro a seguir com as próprias pernas? Não sei fazer isto. Tenho ficado refém dos monstros que crio. Não sei como expulsar do ninho o sequestrador de minha atenção e dedicação. Fico presa à estrutura que inventei para acolher o ser cuidado e não vejo como desorganizar esta dinâmica sem derrubar tudo. Não é fácil produzir autonomia para os outros. É preciso que aconteça a mágica do desejo pela independência por uma das partes. Meu desejo por independência acontece, mas do outro não. Eu me saturo de me dedicar por um tempo sem fim. Eu preciso do final da história, de concluir etapas, de finalizar projetos e começar outros.
Talvez eu não devesse cuidar tão bem dos outros. Talvez eu devesse ser mais austera, sem tantos desdobramentos de atenção, sem tantos detalhes e requintes de ofertas de cuidados. Eu viro quase uma camareira das pessoas quando me disponho a cuidar de alguém. Isto não está certo. Isto não é normal eu diria, se pensasse bem antes de me deixar levar pela compulsão de atender às necessidades de alguém. Eu até invento necessidades que as pessoas nem haviam pensado para vê-las bem. É quase como uma instalação estética cuidar de alguém para mim. Fico antevendo o que a pessoa vai precisar e preparo o ambiente para ela, me desdobro em esquemas criativos para vê-la bem instalada, aconchegada, querida e feliz.
Mas aí a pessoa se deita nas cordas e gostando de todo aquele atendimento me escraviza. Eu suporto por um tempo, mas depois vou sentindo um mal estar, uma angustia e fico prestes a estourar. Até adoeço. Meu corpo começa a me avisar que é hora de parar com o projeto e me vejo em maus lençóis para me desfazer daquela instalação que eu mesma construí para abrigar o monstro que forjei.
Eu não sei a medida do cuidado. Deveria existir um Manual do Cuidado para pessoas cuidadoras como eu. Eu nasci para cuidar dos outros. Sei disto, mas precisaria aprender a fazer isto sem chegar ao ponto de esgotamento a que me exponho sendo tão amadora.
Não tenho sabedoria para cuidar dos outros. Será que podemos aprender a fazer isto sem chegar ao esgotamento? Como pressentir a chegada de sugadores de energia? E como nos livrarmos deles quando se instalam como se fosse de direito? Como fazer isto com o menor trauma possível para ambos os lados?

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