quarta-feira, 20 de junho de 2012

O tempo da delicadeza

Como eu poderia saber que estes dias chegariam, o tempo da delicadeza? Foram tantos momentos abruptos na vida, tantos dias de extrema insatisfação, tormentos de paixões mis vividas ao extremo. Tantos foram os caminhos experiementados pra chegar ao lugar da paz de espírito, da sensatez. Tanta espera preguiçosa no sofá mais confortável da sala, que agora pouco importa. 

A memória em luz mais parece um arquivo indiferente, dotado de noções pra desenhar minha história. Está tudo tão claro como nunca. Ela pode ser revista com mais lucidez e calma poética como jamais havia imaginado. A angústia virou uma palavra sutil para descrever a ansiedade inquieta, brotada das sensações de impotência. Toda a angústia experimentada flui na vaga música ouvida pelos dons de ouvido, tão raros nos dias de hoje, e se transmutará em perfume do pó das estrelas que aprecio nas noites quietas de meu jardim.

Enfim, deixarão espaço para memórias tênues de conversas noturnas ao telefone com alguém recém conhecido, de história trágica contada em livro, mas que preserva em reservas escancaradas uma ternura de criança de quem queremos cuidar e mimar. É o tempo da delicadeza que se aproxima de mim, que remete a minha natureza cuidadora do mundo e me dá mais uma chance de mostrar que aprendi a lidar com a vida. A vida, que esteve sempre por perto enquanto eu me refugiava em mim mesma, nunca desistiu de mim. 

Ela sempre soube que eu ressurgiria das cinzas para viver o tempo mais precioso da existência, o tempo de contar nossa história de outra forma, com outras palavras, com outros sentidos, em que todos os atores são heróis de si mesmos. Um tempo de lembranças guardadas de que os laços que nos uniram são fitas mimosas das roupinhas de bebê que todos usamos algum dia. No dia em que fomos todos iguais, quando deixamos fugir a delicadeza para reencontrá-la mais tarde, como agora encontro a minha, no meu tempo da delicadeza.

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