quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Um corpo está sendo procurado

'Um corpo está sendo procurado'. Foi isto mesmo que disse a reporter ao anunciar que uma pessoa estava sendo procurada depois de um deslizamento em Angra dos Reis, recentemente. Não posso esconder a minha idade quando chego à conclusão de que isto só pode ser coisa de jovem, sem experiência em humanidade. A pessoa desaparecida em questão deve ter um nome, uma identidade, filiação, sexo, idade e coisas do tipo. Certamente que habita um corpo, mas este não a identifica de pronto. Este tipo de procedimento noticioso se repete diariamente. As diversas maneiras com que a mídia se refere às pessoas envolvidas em incidentes, acidentes e tragédias me levam a pensar que não somos mais sujeitos de nada, nem de nossas tragédias. Muito menos delas, ao perdermos o domínio sobre nossos corpos e mentes viramos um objeto de especulação midiática. Sei que isto não é um espanto exclusivo meu. Já li outros comentários na mesma linha desta indignação. O mundo está em pleno reboliço catastrófico e as pessoas morrem como moscas. Tornam-se apenas números e coisas [corpos] de um caos para o qual não estávamos verdadeiramente preparados apesar das profecias milenares. Corpos estendidos no chão se acumulam dia após dia. Falar de corpos talvez seja uma forma de suportar o medo e nos prepararmos para dias mais tenebrosos. Ficamos a pensar quando estaremos entre os corpos procurados e a rezar que sejamos encontrados com ou sem vida.

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