segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Dieta da solidão

experimentei estes momentos ao longo da vida, nestes 53 anos, e nem sempre reconheci o valor como o tenho feito agora. Viver sozinha tem seus momentos. É claro que o dilema entre viver só e acompanhada se evidencia quando pensamos nas perdas e ganhos da vida a dois. Mas quero falar da dieta da solidão. É verdade mesmo que quem vive só, só come quando tem fome. E saber organizar a vida em torno disto é muito legal. É preciso ter em casa aqueles alimentos fáceis de preparar ou simplesmente pegar na geladeira ou no armário e consumir sem nenhum preparo prévio que demande muito tempo antes da fome. Pensando nisto, adotei a dieta mediterrânea com aquelas sementes todas, cereais e castanhas e sucos de frutas frescas, peixe, muita água mineral, água de côco geladinhas. Carne, uma vez ao mês; mais que isto é exagêro, mas até pode acontecer uma vez por semana. A cozinha está sempre limpa e sobra espaço na geladeira. A rotina alimentar, como o resto da lida doméstica, transcorre sem estresse. Acredito que a questão da alimentação é um dos fatores de muito estresse na vida vivida em família. Aquela história de ir ao supermercado e perambular com o carrinho cheio de coisas e depois ter que chegar em casa, descarregar tudo e guardar. Ui, sempre abominei isto. É claro que sei que muitas famílias no mundo gostariam de ter este trabalho ao invés de passar por necessidades. Talvez a minha abstinência alimentar suavize o meu desdém, sabendo da situação delas. Solidarizo-me com a situação do mundo, mas não deixo de ser uma pessoa com identidade própria e abnegada pela condenação à liberdade, como diria Sartre. É, a dieta da solidão também tem me oportunizado voltar a ler escrever. Leio a qualquer hora e em qualquer lugar da casa sem importunar ninguém e sem ser interrompida nos meus devaneios. Isto não tem preço e não há cartão de crédito que pague. Há muitas coisas que não têm preço vivendo-se uma dieta da solidão, como ir dormir na hora em que se quiser e acordar a qualquer momento e acender a luz sem perturbar ninguém. Pode-se inclusive perder o sono e decidir fazer coisas pela casa sem parecer um camundongo esperto. Eu não posso esquecer da validade da dieta da solidão. Talvez eu tenha nascido para viver nesta dieta e por isso não tenha conseguido manter casamentos baseados em assumir papel de esposa de alguém. Eu não nasci pra ser esposa, embora adore estar apaixonada. O problema é que toda a vez que me apaixono, me perco dessa memória. Simplesmente esqueço que a dieta da solidão, para mim, é o melhor caminho para a liberdade. Talvez eu devesse fazer um anúncio para encontrar alguém que usufrua da própria liberdade e admita uma dieta da solidão estando junto.

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