segunda-feira, 7 de novembro de 2011

É hora de mudar

Cheguei a planejar trabalhar mais um ano. Havia definido que planejaria a vida por ano. Mas cada vez mais vejo os limites de continuar neste trabalho.
As coisas boas não superam as ruins. O negócio é planejar a aposentadoria mesmo. Afinal, adquirimos o direito e temos o direito de mudar a nossa rotina de vida. Fazer outras coisas sem essa cobrança permanente de fazer cada vez mais.

Tenho organizado a minha vida para mudar, largar este peso do academicismo, esquecer a preocupação que este trabalho incute na mente da gente. É um sentimento de culpa por não estar fazendo tudo o que deveria para ser um aistén. Como se fosse possível existir uma legião de aisténs. Quanta bobagem.

O bom é que não estou desmotivada para a vida, estou cansada do que se tornou a universidade. Eu sei que sou uma boa professora, mas isto não basta nesta nova cultura. E acabamos por nem ser mais bons professores porque temos que fazer tudo. E afinal, não ser bom em nada.

Vou empurrar com a barriga até fazer o pedido. Vou passar um tempo sem me obrigar a nada e depois escrever. Levarei uma vida de escritora e já sei até sobre o que vou escrever. Vou contar histórias sobre vidas reais de pessoas.

Criei um blog eumoronobolaxa.blogspot.com porque vou começar pelo Bolaxa, mas depois vou sair por aí. É uma pesquisa institucional, mas continuarei depois de aposentada. Quero contar a história de vida de pessoas comuns. Estou feliz com esta possibilidade.

Acho que me realizei profissionalmente. Atingi o objetivo de quando saí do banco. Cheguei a virar até uma doutora. É mais do que planejei. Eu só queria dar aulas na universidade. Mas já trabalho desde 1975 e já é hora de me libertar da vida de trabalhadora. É hora de passar a outra fase da vida. A fase do ócio criativo.

Todas as críticas que tenho feito à universidade são por me preocupar com o futuro dela e das pessoas. São críticas de comprometimento, mas acho que os que ficarem é que terão que experimentar os seus limites.

O mais interessante é que não foi uma questão de chegar no meu limite, foi uma descoberta de que a vida pode mudar, podemos ter outras experiências e nos ver em condições diferentes, livres do condicionamento social em que fomos introduzidos desde jovens, com compromissos e horários e cobranças de produção ativa.

Aposentar significa para mim um dever cumprido, uma possibilidade de reaprender a viver de outra forma.

Por incrível que pareça a convivência com o Marcus, meu irmão, com seu tempo vivido diferente, vivendo os dias fazendo coisas devagar, no seu tempo e curtindo pequenas coisas que consegue realizar no dia, me mostram que o sentido da vida é muito mais do que grandes realizações.

Pode-se ter muito mais alegria ao fazer um bolo de chocolate e tomar um bom café sem pressa do que conseguir publicar um artigo em uma revista b1. A simplicidade é muito mais compensadora do que a luta permanente para alcançar coisas inalcansáveis. A descoberta disto é libertadora.

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