domingo, 8 de maio de 2011

Permito-me enganos

Permito-me tantos olhares, tantas maneiras de ver o mundo. Não tenho medo da contradição e da incoerência, pois chamo em meus des-norteios (ou des-suleios) a recorrência de ponderações plausíveis. Como se testasse minhas crenças a todo o momento quando falo, penso, sinto o mundo. Busco um jeito de apreender as coisas do mundo e poder me situar, mesmo que por instantes sutis. A sutileza da vida talvez seja isto, poder se permitir os enganos e se colocar como eterna aprendiz. Quem sabe em algum momento distante saberei melhor sobre as coisas mundanas, sobre as gentes que encontro e desencontro pelo caminho. Já teve um tempo em que me arvorava de certezas e convicções. Era até intransigente com estúpidos. Tornava-me assim também a coroa da estupidez. Achava que minhas leituras de papel impresso e de vagas interpretações poderiam me comprar a sabedoria em latas com zíper fácil de abrir. Talvez ainda haja tempo para minha salvação, descobrir que mais do que nada sei, nada sei do que nada sei. Sou uma mulher de meio século tentando superar o próprio século em vão. Mas permito-me a asneira, a brincadeira, as colagens e bricolagens que voltei a experimentar. Tenho me dedicado a colagens de embalagens e revistas, jornais, desenhos, gizes de cera, glitter e tal, escrito poemas a partir do passatempo com elas e pode crer que vou me achando nos caminhos incertos das meditações. Tenho me permitido jogar dados, como a cartomante com seus búzios lendo a sorte vou relacionando imagens, palavras e pensamentos. Vou exorcizando impressões, medos de dizer a verdade, inverdades, sonorizando idéias, enquanto um bem-te-vi insistente se observa em minha vidraça, por minutos sem fim. Eu me permito todas estas loucuras que tem sido minha vida desde que inaugurei esta fase de não me importar tanto com a verdade verdadeira, mas com a psicanálise de minhas visões de mundo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário