quarta-feira, 11 de maio de 2011

O ninho e a chave

Havia me comprometido a fazer parte de uma mostra de intuição artística ou intuição estética, como tenho encarado a definição desta intervenção. O nome da mostra é Livros Verdes (Karine Sanchez). Cada um construiria a sua concepção de livro verde, isto é, alguma coisa que represente relações com a Educação Ambiental. Havia aceitado que esta ação fosse promovida dentro de uma disciplina, envolvendo alunos e alunas inspirados e desafiados a se exporem com suas idéias abstratas ou concretas ouconceituais o diabo. Tentara uma colagem ao mesmo tempo em que começara a testar materiais. Fiz a maior cacaca, minha obra virou um amontoado de colagens coladas e grudadas uma nas outras. Era conceitualidade demais para um exposição, um misto de possibilidades de vaia e estorvo. Pus de lado aquela idéia, que mais valeu pela experimentação das coisas do que de um produto para ser exposto. Valeu pela vivência íntima, pessoal. Até achar que haveria interlocutores compreensivos seria querer demais.
Dias antes quando andava pelo jardim reparei um ninho em contrução caído na grama. Juntei e fiquei admirando a trama maravilhosa que seu construtor iniciara. Não era a primeira vez que juntava um ninho pelo pátio, mas aquele não chegara a ser usado, estava novinho, e fora arrancado de seus galhos de fundação pela ventania. Institintivamente o guardei no atelier, queria admirá-lo com mais calma.
Pois foi para ele que olhei quando via que a obra anterior com as colagens havia caído por terra.
Logo pensei que seria legal levar a metáfora da coisa em contrução, da coisa inacabada e achei que aquele ninho era o símbolo para isto, era mais do que isto, era uma representação meiga de processos vitais, de processos de resguardo, de conforto. Mas era também a representação de processos que caem, que vão por terra e que nos abrem possibilidades de novos encontros, de abrirmos novas portas. Foi então que pensei que esta possibilidade poderia ser representada por uma chave. A chave seria colocada abaixo do ninho. Fiquei satisfeita com o meu processo e com o semiproduto, deixando sem resposta, e talvez suscitando algumas perguntas.
Levei pra exposição e a deixei lá, sobre uma mesa redonda que colocaram para mim.

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