domingo, 6 de março de 2011

Ir ao supermercado

Uma das coisas mais penosas para mim é ter que ir ao supermercado. Já devo ter dito isto umas cem milhões de vezes. Mas não me canso de dizer, sentir e pensar. Aqueles labirintos modernos de coisas empilhadas e espalhadas em ilhas de consumo me atormentam. Tenho me dedicado a consumir minimamente para poder fazer destas idas momentos rápidos e sem dor. Fico economizando os mantimentos para que durem ao máximo. Isto me torna ecologicamente correta porque vou até às últimas consequências da fome, dando conta de todos os restinhos e pendências na geladeira somente para não ter que ir ao supermercado. Cativa de fobias, eu diria que sou acometida de mercadofobia. Tento me esquematizar e tornar estes momentos mais sadios, leves e normais, mas tenho um tempo para estar naquele recinto com aqueles carrinhos desenfreados e aquelas pessoas apressadas pisando em meus pés, dando empurrões e cutucões para escolherem seus tomates. Nestes momentos geralmente eu chego ao clímax do pânico. Fico vendo todos aqueles tomates me olhando e não consigo escolher direito. Bate uma crise de poder de decisão danado. Geralmente chego em casa com tomates defeituosos. É, novamente sou ecologicamente correta mesmo sem querer. Sou eu que levo os tomates feios.

Mas hoje aconteceu alguma coisa para minimizar meu pânico lá no estágio da fila do caixa. É comum neste horário eu chegar a ter tonturas e falta de ar. Aí já cheguei ao meu limite e luto para não largar tudo e correr para casa. Mas hoje especialmente foi um dia especial. Havia um homem a minha frente que segurava a fila para o resto de sua família (mulher, sogra e filho) que continuava a trazer coisas para o carrinho. Ele abrira um saco de salgados e comia vorazmente , segurando uma cadeira de praia. É feriado de Carnaval e o balneário onde moro está cheio de turistas. Sei que ele é turista porque perguntou se aquele era o único mercado do lugar, querendo puxar conversa. Falava com a boca cheia e o cantinho dela cheio de farelos. Logo atrás de mim chegava um homem negro muito interessante. Reluzia sua corrente de prata no pescoço de pele negra genuína. Se não era um expresidiário, era um músico ou um pintor de paredes. Era um homem simples, mas muito simpático e receptivo. Não parei pra analisar a questão na hora. Apenas senti vontade de me aproximar dele. Eu estava receptiva. Desconfiei que era músico amador. Mas puxei assunto com ele. Me pareceu mais confiável do que aquele turista. Falamos do movimento lotado do lugar e olhávamos a nossa volta como se não precisássemos falar. Intuia que víamos a mesma coisa. Foi quando o turista percebeu que a cadeira que estava comprando era toda torta. Não nivelava no chão. Olhei para o 'pintor' e resolvi fazer uma graça., sem que o turista ouvisse, claro. Disse que a pressa destes eventos em supermercados vai chegar a um ponto em que irão colocar uma figura de frango na prateleira e pensando ser um frando a levaremos pra casa sem perceber que não é um frango. Ele riu muito e complementou a anedota dizendo outras coisas. Quando percebi já era minha vez e já estava me despedindo do companheiro de fila e rumando para casa. Que fobia, que nada. Tenho que abandonar essa idéia. Eu preciso mesmo é de contato humano.

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